Abstract:
A mobilização de recursos que as organizações constantemente impetram reflete as mudanças estratégicas que buscam implementar. Ao longo do tempo, estes recursos são erigidos no intuito de criar diferenciação perante seus competidores. Nas últimas décadas, a profusão da concorrência, de diversas origens, atuando no mercado internacional, traz novas dimensões a serem estudadas. O ambiente competitivo, que, durante o século XX, vinha sendo avaliado em duas principais esferas, organizacional e industrial, passou a receber maior carga de influência dos aspectos institucionais. As análises do ambiente competitivo, portanto, tornaram-se mais complexas e fez-se necessário que decisões estratégicas envolvessem mais variáveis. A importância da história da organização e o papel que determinados posicionamentos tem no planejamento de ações futuras passa a ser um ponto a ser mais bem investigado. Assim, a dependência de trajetória, como vantagem ou como desvantagem precisa ser mais bem avaliada no que tange à mobilização de recursos para a inserção internacional e a reconfiguração de suas estratégias globais. Como pano de fundo desta investigação, a indústria calçadista mostrou-se um campo fértil a ser pesquisado, uma vez que é uma indústria madura com tradição exportadora de longa data. Dentro do objetivo geral de compreender como os recursos foram reconfigurados, ao longo do tempo, segundo o enfoque da Visão Baseada em Recursos (RBV – Resourced-Based View), e como foram capazes de contribuir ou responder às estratégias de atuação em mercados internacionais de empresas calçadistas do Rio Grande do Sul, buscou-se responder como a reconfiguração de recursos se relaciona com tais mudanças. Para tanto, como estratégia investigativa, optou-se por um estudo de dois casos de empresas exportadoras que tiveram diferentes trajetórias. Inicialmente, foram entrevistados três profissionais com historicidade dentro da indústria, que não estavam atuando nas empresas estudadas e, posteriormente, se fez três entrevistas em cada uma delas, com pessoas chave na configuração de recursos ao longo do tempo. Concluiu-se que a mobilização de recursos está atrelada a decisões no passado e podem gerar novos pontos de inflexão que podem balizar movimentos estratégicos futuros. Ainda, que avaliações do ambiente institucional e de historicidade devem fazer parte das análises contra factuais que os gestores enfrentam cotidianamente. Percebeu-se, que os estudos sobre estratégias de internacionalização, erigidos em países avançados, necessitam aprofundamentos para entender a complexidade dos ambientes de economias emergentes.