Resumo:
Os hábitos e práticas cotidianas não eram, até pouco tempo, muito valorizados na pesquisa do consumidor. Em geral, os trabalhos se voltavam às condições especiais e extraordinárias de consumo e às análises simbólicas. A importância da investigação dos aspectos mundanos reside na razão, tão óbvia quanto verdadeira, de que é no dia a dia e em situações triviais que ocorre a grande parte das nossas eleições de consumo.O café é item pertencente à cesta básica, considerada a junção mínima e obrigatória de alimentos para um cidadão adulto, sendo o produto mais consumido pelos brasileiros. A observação do consumo de café nos permite compreender de que forma um produto mundano pode se revestir de características especiais e como, ao mesmo tempo, práticas se rearticulam, modificam e reorganizam ao longo do tempo. Neste trabalho, utilizou-se um olhar sobre as micro práticas cotidianas de consumo através de entrevistas em profundidade em conjunto com a análise de desdobramentos macro sociais e estruturais que se tornou possível por meio de uma coleta em jornais de época. O objetivo foi o de capturar importantes marcos que permitissem analisar a evolução das práticas e seus desdobramentos através da utilização da Teoria da Prática. A Teoria da Prática tem sua origem entre teóricos como Bourdieu (1983) e Giddens (1984), que analisam a existência de estruturas sociais que interferem na regulação de rotinas e práticas humanas. Buscou-se, além do entendimento das práticas como a junção de três elementos: as ações, objetos e significados (ARSEL e BEAN, 2013), a compreensão destas também como “entidades em si mesmas”. (SCHATZKI et al., 2001). As práticas cotidianas costumam apresentar diferentes ritmos, que, muitas vezes, não obedecem a padrões cronológicos. Mudanças estruturais como, por exemplo, a saída das mulheres para o mercado de trabalho, podem se revelar importantes para a realocação das práticas e modificação de sua textura temporal. Os objetos ainda não conseguiram capturar o merecido interesse acadêmico, apesar de sua importância para os padrões de reprodução social. (LATOUR, 2012; SHOVE, 2007). Artefatos como o coador de pano e as cafeteiras se mostram relevantes para o desenvolvimento, manutenção e realocação das práticas de consumo.