Resumen:
Este trabalho considera que a popularização da ciência corresponde ao fenômeno social de comunicação dos conhecimentos provenientes da ciência à sociedade em geral (HILGARTNER, 1990; CORNELIS, 1998; MYERS, 2003; CALSAMIGLIA; DIJK, 2004) e assume a existência de graus de popularização da ciência postulada por Hilgartner (1990) e por Jacobi (1999, 1990, 1988, 1985 e 1984), de acordo com os quais a comunicação da ciência ocorre em vários contextos, desde os mais restritos e especializados até os mais amplos e públicos. Ao sustentar que a popularização da ciência é uma troca de linguagem empreendida por sujeitos que, em uma situação de comunicação específica, possuem determinadas finalidades, este trabalho se afilia à concepção charaudiana de contrato de comunicação, que corresponde a um acordo de identificação das condições de realização da troca de linguagem pelos sujeitos. (CHARAUDEAU, 2008a, 2008b, 2007, 2005, 2004 e 2001b). As variações da comunicação pública da ciência (i) decorrem dos componentes dos contratos de comunicação que organizam as trocas de linguagem e (ii) acarretam diferenças na materialidade linguística dos textos, que são o produto dos atos de comunicação. O objetivo desta pesquisa é verificar o indiciamento de graus de popularização da ciência na mídia pelas categorias linguísticas e discursivas correspondentes à referenciação e ao discurso relatado. Ao se afiliar à concepção construtivista da referência, descrita por Mondada e Dubois (2003) e representada também por Apothelóz e Reichler-Béguelin (1995), por Apothelóz (2003) e por Cavalcante (2011), esta pesquisa assume a sistematização de Apothelóz e Reichler-Béguelin (1995) em relação às operações empregadas pelos interlocutores no processo de evolução da referência e as sistematizações relacionadas aos processos de referenciação propostas por Cavalcante (2011) e especialmente por Apothelóz (2003). Além disso, fundamenta-se sobre a definição semiolinguística de que o discurso relatado corresponde ao ato de enunciação mediante o qual um locutor, em determinado espaço e em determinado tempo, relata a um interlocutor o que foi dito por outro locutor a outro interlocutor em espaço e em tempo distintos. (CHARAUDEAU, 2007). O corpus de análise é constituído por vinte notícias de popularização da ciência publicadas nas revistas Ciência Hoje e VEJA entre os meses de janeiro e junho de 2010. O exame dos textos revela o alinhamento dos procedimentos linguísticos e discursivos da referenciação e do discurso relatado à representação dos sujeitos integrantes da instância de recepção midiática, o que evidencia o atendimento à visada de captação do contrato de comunicação da mídia, mediante a qual a instância de produção midiática deve alcançar os sujeitos da instância de recepção. A descrição dos elementos dos contratos de comunicação das duas instâncias de produção possibilita relacionar a configuração linguística dos textos que resultam das trocas de linguagem, a partir da análise dos procedimentos da referenciação e do discurso relatado, aos graus de popularização da ciência representados pelas revistas Ciência Hoje e VEJA.