Resumo:
O presente trabalho faz parte de um projeto maior (OSTERMANN, 2013) e procura descrever e sistematizar a empatia por meio da perspectiva interacional. Tendo sido objeto de estudo de várias áreas (filosofia, sociologia, antropologia, psicologia, psicanálise e, mais recentemente, neurofisiologia), há algumas definições para a empatia. Essas definições, no entanto, tendem a possuir caráter teórico e subjetivo, impossibilitando a compreensão de como a empatia se concretiza de fato na prática interacional. Neste estudo, quer-se avançar na descrição de empatia de modo a descobrir as maneiras com que ela se manifesta na prática por meio de análises empíricas realizadas com base nos princípios da Análise da Conversa (SACKS, 1992; SACKS, SCHEGLOFF, JEFFERSON, 1974). Os dados utilizados na realização deste estudo são provenientes de um hospital materno-infantil do Sistema único de Saúde (SUS), localizado no sul do país. Trata-se de exames de ultrassom obstétricos e morfológicos, além de ecocardiografias fetais. Esses atendimentos acontecem no setor responsável por gestações de médio e alto risco gestacional. Os resultados deste estudo demonstram que a escuta ativa costuma ser um elemento-chave nas sequências interacionais em que há empatia. A ação de escuta ativa, por sua vez, está atrelada à agentividade (CLAYMAN, 2012) do/a interagente. Dessa forma, pode-se afirmar que as ações interacionais da paciente durante os atendimentos médicos constituem-se também em elementos fundamentais para que o médico ou a médica tenham a possibilidade de empreender ações empáticas. Percebeu-se que é na sequência de ações interacionais, ou seja, na coconstrução de uma interação, que pode ser estabelecida uma relação empática socialmente efetivada, de modo que a empatia não emerge atrelada a um único formato de turno. Foram encontradas várias recorrências, conforme análise de dados deste trabalho, em que emergem ações potencialmente empáticas, de tal modo que a empatia mostrou-se como um elemento constitutivo ou ausente das diversas camadas que formam uma ação interacional. Desse modo, uma ação interacional pode ser orientada por um “algo a mais” que, dentro de determinado contexto sequencial e interacional, a tornará empática ou não empática. Com base neste estudo, define-se a empatia como um fenômeno subjetivo que se manifesta na interação por meio de diferentes práticas e de forma a permear ações altruístas ou não.