Resumen:
Esta dissertação investiga a noção de discurso na obra de Émile Benveniste. Partindo da declaração de Gérard Dessons (2006), que diz que Benveniste é o "inventor do discurso", este estudo tem como objetivo elucidar o lugar ocupado por esse conceito na obra benvenistiana. Para isso, empreende-se uma busca por referências a Benveniste no Dicionário de Análise do Discurso (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2008), assim como uma discussão acerca de pontos da sua Teoria da Enunciação que podem induzir o leitor a uma leitura indicialista. Discorre-se sobre a trajetória de Benveniste desde sua filiação a Saussure, passando pela sua ultrapassagem em relação ao mestre, até sua chegada ao conceito de língua-discurso. Esse conceito se define, nesse estudo, como o semiótico particular de cada locutor. A análise efetiva do termo discurso é realizada com base em um corpus teórico delimitado a partir de um percurso metodológico de leitura. Esse corpus é composto por nove textos de Problemas de Lingüística Geral I e II: Observações sobre a função da linguagem na descoberta freudiana (1956), A natureza dos pronomes (1956), Da subjetividade na linguagem (1958), Vista d'olhos sobre o desenvolvimento da lingüística (1963), Os níveis da análise lingüística (1964), A linguagem e a experiência humana (1965), A forma e o sentido na linguagem (1966), Semiologia da língua (1969) e O aparelho formal da enunciação (1970). A partir da análise desses textos, estabelece-se uma relação indissociável entre enunciação e discurso: são interdependentes, embora distintos. A análise permite concluir que o locutor, ao apropriar-se da língua-discurso, tira-a do estado de possibilidade, atualizando-a, convertendo-a em discurso pelo ato de enunciação, ou seja, implicando-se (inter)subjetivamente. O discurso define-se, assim, como a manifestação da enunciação, responsável por promover a experiência humana, que só encontra plenitude na e pela linguagem.