Resumen:
Cerca de 50 a 90% das árvores e arbustos tropicais têm suas sementes dispersas por vertebrados. A dispersão zoocórica é fundamental para o processo de regeneração de áreas perturbadas, abertas e/ou abandonadas. Aves e morcegos são considerados como excelentes agentes dispersores em termos de quantidade de sementes, distância de dispersão e por dispersarem a maioria das sementes que consomem. Os objetivos principais deste trabalho foram: avaliar e contrastar o potencial germinativo das sementes e a remoção dos frutos de Solanum granulosoleprosum (Solanaceae) feita por aves e morcegos. O trabalho foi realizado em Frederico Westphalen, norte do Rio Grande do Sul, Brasil, em seis fragmentos de Floresta Estacional Decidual. Observações sobre a fenologia de frutificação de S. granulosoleprosum e observações sobre quais são seus dispersores, através de observações focais e uso de redes de neblina, foram realizadas. Aves e morcegos foram capturados para obtenção de amostras fecais de onde foram separadas sementes de S. granulosoleprosum para ser realizado experimentos de germinação em placas de Petri em laboratório. No experimento foram usadas 120 sementes para cada um dos três tratamentos: aves, morcegos e controle. Frutos de cinco plantas de S. granulosoleprosum foram marcados e monitorados por 30 dias para avaliar a remoção por aves e morcegos. As observações da fenologia de frutificação apontaram um maior número de plantas com frutos maduros no outono e inverno (abril a agosto), com um pico de frutificação ao final do outono. Foram registradas 13 espécies de aves e quatro de morcegos consumindo os frutos de S. granulosoleprosum. As aves (40% de germinação) foram mais eficientes que morcegos (16,7%) e controle (17,5%) na porcentagem de germinação das sementes, enquanto morcegos não diferiram do controle. A velocidade de germinação das sementes que passaram pelas aves foi maior que morcegos e controle, que não diferiram entre si. Ao final do experimento de germinação 41,7% das sementes do tratamento morcegos, 6,7% de aves e 1,7% do controle sofreram ataque de fungos e não germinaram. Dos 667 frutos marcados, 565 (85%) foram removidos. Morcegos removeram 64,5% e aves 35,5%. O presente trabalho ilustra um caso em que aves e morcegos têm efeitos contrastantes na dispersão de sementes: enquanto as aves são mais eficientes que os morcegos do ponto de vista qualitativo, aumentando a germinação das sementes de S. granulosoleprosum, o contrário acontece em relação ao componente quantitativo da dispersão, com os morcegos removendo maior número de sementes que as aves.