Abstract:
O ultrassom obstétrico faz parte do pré-natal de quase todas as mulheres em todo o mundo, seja ofertado pelo sistema público de saúde ou pelo privado. Realizado diversas vezes ou não durante a gestação, o contexto criado com a realização desse exame suscita a reflexão de questões de diferentes ordens, sejam macro ou micro. A partir desse contexto, objetiva-se com esta dissertação analisar a interação entre médicos ultrassonografistas e gestantes durante o exame. Pretende-se especificamente com esta pesquisa (1) analisar como o assunto parto ? questão de ordem macro ? é trazido às interações e (2) sistematizar o conceito de orientação, utilizado abertamente pelos analistas da conversa, analisando-o como um tópico, observando momentos interacionais que evidenciem problemas de orientações entre os interagentes durante os exames de ultrassonografia obstétrica. A pesquisa fundamenta-se, principalmente, por meio do aparato teórico-metodológico da Análise da Conversa (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1976). Utiliza-se também como aporte para as análises desenvolvidas estudos que reflitam a questão do parto e textos da Análise da Conversa que fomentem a tentativa de definição para o termo orientação. Os dados analisados são provenientes de exames de ultrassom obstétrico gerados em uma clínica da rede privada de saúde, em um total de 85 interações. Quanto ao primeiro objetivo analisado, verificou-se que as gestantes, mesmo antes da realização e resultado do exame, trazem o tipo de parto, principalmente cesáreo, como já definido. Foi possível identificar também em relação ao parto que há compreensões distintas do médico e da gestante sobre a palavra ?encaixe?, produzindo impasses interacionais. Concernente ao segundo objetivo, a orientação dos participantes tornou-se evidente ? em termos de ter sido observada pelo analista e demonstrada pelos interagentes ?, quando foi divergente entre eles e relacionada a divergentes conhecimentos, como técnico e leigo, e a informações obtidas pela tela do ultrassom. A partir da análise das orientações divergentes, foi possível compreender que a orientação está presente na interação para auxiliar na manutenção da intersubjetividade entre os participantes.