Resumen:
OBJETIVO: Estudo de coorte histórica desenvolvido para descrever a freqüência e o motivo de trocas de esquemas antirretrovirais iniciais, analisar as trocas devido a reações adversas e investigar os fatores associados, em pacientes que iniciaram a terapia num centro de referência de HIV/AIDS em Porto Alegre/RS, Brasil. MÉTODOS: O estudo faz parte de um protocolo multicêntrico do qual apenas os dados referentes a Porto Alegre foram utilizados. Foram incluídos 819 indivíduos infectados pelo HIV que iniciaram terapia antirretroviral entre 2003 e 2010. Foram descritas as características sociodemográficas, comportamentais e clínicas da população e utilizou-se o modelo de regressão de Cox para verificar as associações com o desfecho. Uma curva de Kaplan Méier foi desenhada para avaliar a probabilidade dos indivíduos da amostra estarem livres de reações adversas ao longo do tempo. RESULTADOS: A média de idade da amostra foi de 38 anos, 53% eram homens, a maioria possuía até 4 anos de estudo (48,6%) e relatou exposição por relação heterossexual (74,9%). A contagem de linfócitos TCD4+ inicial foi < 250 células/mm3 em 70% dos participantes e a carga viral entre 10.000 a 99.999 cópias / mL em 46,5% da população. O esquema mais utilizado foi AZT+3TC+EFV (56,8%). A mediana do tempo até a troca do primeiro esquema terapêutico foi de 34 semanas. No total ocorreram 328 interrupções do primeiro esquema, 172 (52,4%) por reações adversas. As reações adversas mais comuns e que originaram a troca foram sintomas gastrointestinais (23%), anemia (19%), sintomas neuropsiquiátricos (14%) e dislipidemia (11%). Fatores associados com o aumento do risco significativo para troca do primeiro esquema, após ajuste, foram a escolaridade 5-8 anos (HR 1,57 IC95% 1,11-2,22), a 99 utilização de esquemas contendo AZT+3TC combinados com IPs (LOP/R [HR 1,95 IC95% 1,02-3,74] e ATZ/R [HR 3,32 IC95% 1,63-6,76) e ARVs classificados como “outros” (HR 3,24 IC95% 1,36-7,78), atualmente em desuso. CONCLUSÕES: As reações adversas causadas pelos ARVs foram o principal motivo de troca do esquema. A escolha do tratamento e o monitoramento do indivíduo que inicia a terapia são situações que devem receber uma atenção especial, buscando, assim, antecipar interrupções e trocas de medicações que, se não manejadas adequadamente, podem colaborar para a falha terapêutica.