Resumo:
Este trabalho realiza um estudo metateórico visando a construir uma interpretação para o conceito de polifonia em Bakhtin, a partir de investigação sobre seu escopo em Problemas da Poética de Dostoiévski. Trata-se de uma tentativa de mapear o território da polifonia, frente à heterogeneidade e dispersão conceitual que se apresenta para sua compreensão, e, a partir daí, discutir a aplicabilidade, em obras literárias, dessa noção tal como proposta por Bakhtin. O material de investigação é a obra Problemas da Poética de Dostoiévski, de Bakhtin, e o corpus de análise são passagens em que os termos polifonia e polifônico aparecem em PPD. Os resultados do estudo apontam que a polifonia é essencialmente um tipo especial de estrutura, a partir da qual um novo tipo de romance é criado, o romance polifônico de Dostoiévski, caracterizado pela independência, imiscibilidade, equipolência de vozes. O termo designa também uma visão de mundo, em que vozes múltiplas e consciências independentes e não fundíveis têm direito a existência. Já a tentativa de aplicar a noção fora do universo dostoievskiano mostrou que a polifonia não pode ser entendida como um padrão unitário para julgamento de obras. Vê-la assim implica obscurecer um dos aspectos mais instigantes da reflexão bakhtiniana sobre a produção literária: é na e pela própria obra que o roteiro para o estudo de sua configuração pode ser encontrado. No entanto, da leitura cuidadosa de PPD, princípios de análise podem ser depreendidos cuja generalidade permite o estudo de qualquer obra literária, preservando-se sua singularidade. A partir da pesquisa, concluímos que, em vez de tomar categorias pré-estabelecidas para verificar sua ocorrência na obra escolhida como objeto de estudo, a operação deve ser inversa, ou seja, é preciso partir da obra para nela encontrar os modos de sua composição particular.