Abstract:
Nesta tese, abordamos as práticas fúnebres e cemiteriais que a Irmandade São Miguel e Almas, de Porto Alegre (RS), adotou em seu cemitério, inserindo-as no contexto de secularização dos campos santos e de projetos e ideias de modernização que a cidade vivenciou, sobretudo em termos urbanísticos, nas primeiras décadas do século XX. Identificamos e analisamos as mudanças introduzidas nas práticas fúnebres ao longo da primeira metade do século XX, bem como aspectos relativos ao gerenciamento do cemitério pela irmandade, a partir da análise de diversos documentos existentes no arquivo da própria instituição, especialmente, das atas de reuniões administrativas. A proposta de construção do cemitério São Miguel e Almas e sua inauguração em 1909 decorreram da importância que uma parcela da população porto-alegrense atribuía ao enterramento de seus entes queridos em um espaço que mantivesse as tradições ritualísticas católicas e que, portanto, se diferenciasse do cemitério público e laico instalado na cidade desde meados do XIX. A adoção de estratégias como as de arrendamentos e perpetuações pela irmandade possibilitou não só reformas e ampliações do cemitério – que ganhou jazigos modernos e nichos verticais –, como a ampliação significativa do patrimônio e do prestígio da irmandade junto à população porto-alegrense, o que permitiu o aprimoramento dos serviços que ela oferecia – como o das conduções fúnebres – e as homenagens anuais aos mortos e ao Arcanjo protetor. Ao final da primeira metade do século XX, e contando com o apoio da Arquidiocese, o cemitério – privado, católico, com padrão estético e patrimonial moderno – se tornaria uma referência para as famílias católicas abastadas da cidade, que buscavam no campo santo mantido pela Irmandade São Miguel e Almas, a garantia da distinção social na vida e na morte e a observância da ritualística fúnebre católica.