Resumen:
Esta dissertação é composta por dois artigos, um de revisão sistemática da literatura e um empírico. A pesquisa desenvolvida teve como foco de investigação as tentativas de suicídio realizadas a partir do uso do fogo. No estudo I, realizou-se uma revisão sistemática da literatura nacional e internacional sobre a temática das tentativas de suicídio através de queimaduras autoinfligidas, no período de 2007-2012, nas bases de dados Academic Search Premier, MEDLINE/Pubmed, Lilacs e Scielo. Encontrou-se 23 artigos, a maioria de natureza quantitativa e que foram publicados em diferentes revistas da área da saúde e por diferentes profissionais. Os resultados apontam que este acontecimento ocorre com maior freqüência nos países subdesenvolvidos, em que as taxas para o suicídio consumado apresentam-se maiores para o sexo masculino e, nos casos de tentativas de suicídio, a grande maioria dos sujeitos é do sexo feminino. Os estudos também averiguaram que as pessoas que tentavam suicídio pelo fogo apresentavam baixo nível de escolaridade, deram na maioria adultos jovens e tinham histórico psiquiátrico e/ou abuso de drogas e dificuldades de relacionamento social e familiar. Já no estudo II, o objetivo foi compreender os significados da escolha do fogo como um dispositivo para a tentativa de suicídio e identificar os aspectos emocionais que permeiam a vida desses indivíduos diante do trauma da queimadura. Participaram do estudo oito mulheres que haviam sofrido queimaduras autoinfligidas há pelo menos um ano e meio e que estavam em acompanhamento médico ambulatorial para reparação das cicatrizes da queimadura em um hospital de Porto Alegre. Todas as participantes responderam a uma entrevista semiestruturada que investigava a história de vida das participantes, o momento de atear-se fogo, a experiência da queimadura, seu atual contexto de vida, os sentimentos após o ato, a reinserção social e como a queimadura tem afetado no seu dia a dia e sua saúde psíquica e física. Além disso, também foi aplicado um questionário de dados sociodemográficos e clínicos. A idade das mesmas variou entre 24 e 55 anos, cinco delas relataram serem casadas/viver junto, duas se separaram após a ocorrência da queimadura e uma delas era viúva. A maioria das participantes colocou fogo em si mesmo num ato impulsivo, em que elas não tinham conhecimento sobre as cicatrizes deixadas pela queimadura e admitiram tê-lo feito para intenção de chamar a atenção de algum familiar próximo a elas. Após o ato, surgiram dificuldades relacionadas à reinserção social, enfrentamento com o olhar de estranhamento do outro e com o seu próprio, diante de uma nova imagem. Concluiu-se que é de extrema importância que se invista em programas de informação e prevenção a fim de evitar que novos casos de queimaduras autoinfligidas venham a ocorrer, causando consequências devastadoras destes sujeitos.