Abstract:
A década de 1980 representa o momento no qual se instaura, na mídia brasileira, o macroacontecimento aborto, cuja polêmica mobiliza intensas discussões por parte da Igreja e do movimento feminista. Estas repercutem de várias formas na imprensa, sobretudo em virtude das pautas que ingressam sobre o tema no Congresso e da intensificação dos debates pelos movimentos sociais. Esta tese objetiva enfocar o discurso das revistas católicas Rainha e Família Cristã sobre aborto entre 1980 e 1990, observadas a partir do tensionamento entre os valores religiosos e os valores específicos da modernidade. Tomam-se as revistas católicas pelo pressuposto de que estas refletem as contradições da Igreja pós-conciliar, marcada pelo embate entre progressistas e conservadores, e tensionada, sobretudo, pela problemática da inserção da instituição no mundo secular. A análise busca perceber as marcas discursivas dessa relação, estruturando-se a partir de pressupostos da análise de discurso para observar processos de designação e formações discursivas, articuladas aos conceitos de campo, ethos da modernidade e de secularização/dessecularização. Conclui-se que o processo de mediação entre campo religioso e campo midiático no âmbito das revistas católicas enfocadas, passa pelas questões do ethos privado, nas quais se estabelece uma perspectiva de “aggiornamento condicionado” face ao horizonte moderno.