Abstract:
A dependência química é sem dúvida um problema de saúde pública, que reflete em uma demanda diariamente crescente de pessoas que buscam recuperação, seja em hospitais, ambulatórios ou comunidades terapêuticas. A dependência de substâncias psicoativas é considerada transtorno com altos índices de recaída, sendo que a motivação dos pacientes para manutenção da abstinência e mobilização de uma estrutura adequada para seu tratamento é crucial. Assim esse estudo teve como objetivo investigar a relação entre os estados motivacionais e aspectos emocionais em dependentes químicos com histórico de recaída. Tratou-se de um estudo quantitativo, em que participaram 69 homens com histórico de no mínimo uma recaída e duas tentativas de tratamento. Todos responderam a um questionário sócio-demográfico; à University of Rhode Island Change Assessment (URICA); ao Inventario de depressão de Beck (BDI) e ao Inventario de Ansiedade de Beck (BAI). Observou-se que os índices de depressão e ansiedade da amostra foram 43,5% com nível leve e 43,5% com nível mínimo respectivamente. Com relação aos estágios motivacionais apenas 1 (1,4%) dos participantes se encontram no estagio de Pré-contemplação, 36 (52,2%) no estágio de Contemplação, 23 (33,3%) no estagio Ação e 9 (13%) dos sujeitos no estagio de Manutenção. Não foram identificadas associações entre estágios motivacionais e estados emocionais. Acredita-se que os sujeitos dependentes químicos ao ingressarem no ambiente de comunidade terapêutica, logo engajam-se em um cronograma de atividades em tempo integral, envolvendo lazer, esporte, espiritualidade e tarefas laborais, o que reflete diretamente no seu humor, ajudando-os a manejarem as emoções desagradáveis bem como a fissura pela substância. A não associação entre ansiedade e depressão e estágios de motivação surpreendeu, pois se esperava que os participantes ao inserirem-se no tratamento, manifestassem com maior intensidade e freqüência humor deprimido ou ansiedade, justamente por estarem frente à possibilidade de mudança de estilo de vida tão radical. Dessa forma, sugere-se um acompanhamento ao longo do processo de recuperação com o objetivo de identificar os fatores pertinentes que influenciam a consciência da necessidade de permanecer em tratamento bem como um trabalho focado na dinâmica familiar.