Abstract:
A ideia do fazer ciência historicamente tem sido sustentada por uma objetividade de ordem epistemológica, técnica e estética, fortemente influenciadas pelos métodos da Ciência Normal. No contexto escolar, o fazer ciência se caracteriza pela aplicação de roteiros pré-estabelecidos e controlados no sentido de corroborar os conceitos abordados em sala de aula. Dessa forma, a condução da pesquisa em sala de aula ou a realização de projetos por parte dos estudantes privilegia a repetição de procedimentos e a apresentação de resultados, ao invés da construção de problemas e da experiência de ensaio e erro. Paralelamente, algumas iniciativas governamentais têm surgido no sentido da modernização das escolas através da inserção de tecnologias digitais, indicando uma política que passa a considerar o espaço escolar como um espaço para a disseminação da cultura digital ou a cibercultura. Algumas escolas têm aderido a projetos governamentais que têm essa finalidade, como o Programa Um Computador por Aluno (PROUCA), que tem disponibilizado às instituições participantes conexão à Internet e laptops educacionais para estudantes e professores, além decursos de capacitação no uso pedagógico das tecnologias digitais. A cultura digital é caracteriza por em regimes sócio-cognitivos que tomam por base a liberação do pólo da emissão, a conectividade em rede e a reconfiguração de práticas e saberes. Esta última característica foi objeto de estudo do presente trabalho, que estudou os paradigmas que norteiam a ação pedagógica em relação ao fazer ciência antes e depois da chegada dos laptops em uma escola municipal da região metropolitana de Porto Alegre. A partir de autores como Levy (1999), Lemos (2009), Maturana e Varella (1995) e Tardif (2002), o trabalho analisou a reconfiguração de práticas e saberes operados por parte desses professores na tentativa de integrar o laptop as suas aulas de ciências. Com base nas ideias dos autores citados discute os sentidos que sustentam o fazer ciência no contexto escolar e as possíveis transformações resultantes da emergência de uma cultura digital numa escola que está adotando modalidade 1 para 1 (um computador por aluno). Estabelece um diálogo crítico sobre a emergência da cultura digital em relação à modernização das práticas pedagógicas nas escolas, especialmente aquelas que tratam mais diretamente do fazer ciência nas diversas áreas do conhecimento. Com base nesse diálogo, oferece subsídios teóricos no sentido de enriquecer a experiência educacional de estudantes e professores do Ensino Fundamental, a fim de favorecer a produção de novos significados ao fazer ciência e ao próprio processo de escolarização no contexto de uma cultura digital emergente.