Resumo:
Esta pesquisa, pautada numa concepção de ensino como trabalho (MACHADO, 2004), enfocou a escrita de professores em formação continuada e sua relação com o desenvolvimento profissional. Objetivando ampliar a compreensão sobre como a escrita profissional medeia o desenvolvimento, realizou-se uma pesquisa qualitativa de caráter longitudinal que acompanhou uma díade de professoras em formação continuada na área de (ensino de) língua materna, tomando o conceito de gênero de texto como eixo articulador da investigação. No quadro de uma formação cooperativa, na qual pesquisadores e professores têm voz e a possibilidade de mudar o curso da pesquisa (GUIMARÃES; CARNIN, 2014), buscou-se examinar o desenvolvimento do conceito de gênero textual, tanto sob o ponto de vista epistemológico como praxiológico. Iluminados pelo amparo teórico do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006, 2011, 2013) buscou-se elucidar modos de: a) compreender a escrita de trabalho do professor inserida no seu espaço de desenvolvimento profissional; b) descrever os modos como a escrita medeia a construção de conhecimento por professores em formação continuada e c) analisar se existem indícios linguístico-textuais, marcados na escrita do professor, que permitem visualizar relação de desenvolvimento profissional e a transformação do conceito de gênero de texto em instrumento psicológico. O exercício analítico se deu a partir de dois textos produzidos pelas professoras colaboradoras da pesquisa: um projeto didático de gênero (GUIMARÃES; KERSCH, 2012b) e um artigo científico. Sob o ponto de vista linguístico-discursivo, foram analisados a infraestrutura geral do texto (plano global, conteúdos temáticos, sequências e tipos de discurso) e os mecanismos enunciativos (vozes e índices de pessoa). Aspectos relacionados à dimensão psicológica do desenvolvimento também foram considerados na análise, a partir de Bronckart (2011) e Friedrich (2012). Os resultados incluem (a) a confirmação de que a escrita do professor é um poderoso instrumento para a tomada de consciência e a reconfiguração da representação do conceito de gênero de texto; (b) a apresentação de uma análise linguístico-textual e discursiva que descreve a (re)configuração do conceito de gênero de texto e sua transformação em instrumento psicológico; (c) a discussão sobre a escrita de professores como episteme de uma prática docente orientada pela e para a produção de conhecimento em situação de trabalho e (d) a abertura de um espaço de pesquisa sobre a relação entre escrita, autoria e desenvolvimento profissional.