Resumen:
O objetivo geral deste estudo é compreender de que forma vêm sendo articuladas táticas de resistência cotidiana dos usuários do ecossistema iOS/Apple. De forma específica, buscamos (1) identificar em que medida os usuários destes sistemas percebem limitações na sua apropriação; (2) compreender como são manifestadas táticas de resistência cotidiana entre diferentes grupos de usuários do ecossistema iOS; (3) discutir possíveis fatores moderadores da percepção de limitações e das táticas de resistência; e (4) compreender de que forma o iOS atua em conjunto com estratégias corporativas de controle da experiência de consumo. Ao longo da trajetória da computação pessoal e da internet, a noção de “abertura” constituiu um valor central na experiência do usuário. O PC conectado e aberto a softwares criados por terceiros se consolidou como artefato generativo em essência (ZITTRAIN, 2006). Sua arquitetura flexível permitia ao usuário alterar os propósitos de usos ao longo da apropriação, para além das configurações imaginadas pelas empresas que os comercializavam. Propomos, assim, uma reflexão acerca do crescente protagonismo de ambientes menos generativos, como é o caso do ecossistema iOS, da Apple. Em conjunto, tecnologia e estratégia promovem o discurso de prover experiências mais personalizadas, otimizadas, estáveis e seguras, pois a generatividade deixa de ser espaço de criação do usuário para ser sinônimo de vulnerabilidade. A partir da Teoria Fundamentada (STRAUSS e CORBIN, 1990) com o auxílio de entrevistas em profundidade, investigamos quatro grupos de usuários: Fanboys, Usuário Padrão, Jailbreakers e Desertores. Os resultados oferecem indícios de que as manifestações e a intensidade da resistência são moderadas pelo envolvimento com a Apple e pela presença do ecossistema de produtos.