Resumo:
A partir dos estudos de Michel Foucault e operando com os conceitos de discurso e governamento, a Tese problematiza a instituição da Bienal do Mercosul como um contexto educativo por excelência, que privilegia a democratização do acesso à arte nas ações que desenvolve, em sintonia com a demanda das políticas inclusivas vigentes no Brasil. Para analisar esse contexto, utiliza como material um conjunto de publicações editadas pela Fundação Bienal do Mercosul, no decorrer das suas nove edições já realizadas, abrangendo o seguinte período: 1997 a 2013. As análises mostraram que o incentivo para frequentar a Bienal parte da promessa de que estar com arte agrega valor aos visitantes, e subentende-se que mudanças são geradas nos sujeitos que transitam por seus espaços expositivos. Tal promessa aponta que as relações estabelecidas entre arte e educação na Bienal do Mercosul têm como foco a capitalização dos sujeitos, principalmente em idade escolar. Para dar conta desse campo de expectativas e de interdependência, a Bienal foi constituída como um território heterogêneo, composto, entre outros, por um viés empresarial e um (necessário) viés educativo. A aproximação da Bienal com as empresas ocorre impelida pelo imperativo de conformação de uma sociedade inclusiva, pela democratização do acesso à arte, pelo fortalecimento da parceria Estado-Empresa e pelo empresariamento dos sujeitos e da sociedade – por meio do crescente investimento em capital humano. A inserção da Fundação Bienal nessa grade de inteligibilidade mostra as bases sobre as quais se assentam seus intentos de formar o sujeito (empresário de si) por meio de projetos educativos que repercutem em investimentos na população. Conclui-se que, ao promover a democratização do acesso à arte, fazendo do sujeito seu foco de intervenção, a Bienal do Mercosul assume o lugar de mais um espaço institucional politicamente instituído que educa e que mantém o fluxo de normalidade da população.