Resumo:
Os modos de objetivação jornalística contêm a organização, a experiência e a interpretação do mundo diante de si, apresentado diariamente nos mapas constituídos pelos jornais. Essas processualidades diretamente vinculadas aos interesses organizacionais, todavia, são suscetíveis aos espaços do mundo vivido e aos acontecimentos que neles irrompem e contrastam com a normalidade cotidiana. Do conjunto, alguns têm alto grau de conflitividade, são os típicos acontecimentos atípicos, que mobilizam o Jornalismo enquanto seu campo de possíveis não cessa de se atualizar. A presente pesquisa apresenta e explora um típico acontecimento atípico a partir de seu ingresso e de sua cobertura em três jornais latino-americanos de referência, o brasileiro O Estado de S. Paulo, o colombiano El Tiempo e o equatoriano El Comercio. Trata-se do Caso Angostura, a forma como denomino a crise colombo-equatoriana desencadeada a partir do ataque do Exército colombiano a um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) localizado em território equatoriano, em 1º de março de 2008. A pesquisa, de forma mais ampla, investiga a produção do acontecimento jornalístico visando a compreender em que medida os típicos atípicos, por suas características e por seus fluxos, alteram as processualidades do Jornalismo. A apreensão é de uma dupla emergência: dos fluxos do Jornalismo e dos fluxos do acontecimento em um processo de codeterminação. Nesse contexto, dedica-se a observar os processos de produção do acontecimento jornalístico, a partir de sua materialidade discursiva, como forma de compor e recompor o acontecimento pelos processos que o constituem (Foucault, 2006, 2010), tomando por base o arcabouço dos estudos do acontecimento jornalístico. Considera, para tanto, um arquivo conformado por textos dos três jornais do período de março de 2008 a agosto de 2009, como modo de acessar a dispersão interpretativa dos sentidos que conformam o Caso Angostura.