Resumo:
Um problema considerável enfrentado pelas organizações hospitalares é a alta rotatividade dos seus profissionais de enfermagem. Especificamente, no estado do Rio Grande do Sul, que adota um modelo de hospitais capaz de atender, simultaneamente, clientes particulares e de convênios privados, além do convênio público disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), esta característica implica em perda de valiosas competências, com reflexos no seu desempenho organizacional. O impacto desta rotatividade na redução da qualidade dos serviços prestados tem sido objeto de estudos na literatura, mas não parece ser este o caso de um hospital localizado no estado do Rio Grande do Sul. Apesar de seus elevados índices de rotatividade, tem mantido a certificação que comprova sua qualidade através da Acreditação Hospitalar – Nível 3. Há alguns anos, seu programa de qualidade tem sido focado em métodos de capacitação de profissionais ingressantes, além de programas de educação continuada. O objetivo deste estudo é analisar se métodos de capacitação de enfermeiros e técnicos em enfermagem ingressantes permitem a manutenção da qualidade do serviço de enfermagem prestado. Foram aplicados questionários a 23 enfermeiros e 10 técnicos em enfermagem, do total de 40 profissionais ingressantes, sobre sua percepção em relação à aquisição de competências específicas durante a capacitação. Simultaneamente, 10 enfermeiros e 5 técnicos em enfermagem antigos responderam sobre suas percepções em relação aos enfermeiros novos, enquanto 14 enfermeiros e 12 técnicos antigos responderam sobre os técnicos em enfermagem novos. As variáveis analisadas neste questionário foram conhecimentos (conhecimento técnico e prospectivo), habilidades (comunicação eficaz e visão integrada de processos) e atitude (liderança). Os dados foram inseridos no programa SPSS, versão 18, utilizando o Teste Não Paramétrico de Mann-Whitney. Foi realizada uma observação não participante de 40 horas, uma entrevista com os profissionais antigos da instituição, a análise de indicadores assistenciais de enfermagem e utilizado um questionário feito pela coordenação do programa de capacitação com os profissionais ingressantes. Houve similaridade nas percepções de enfermeiros ingressantes e profissionais de enfermagem antigos de que ocorreu a apreensão da competência habilidades durante a capacitação,
enquanto que técnicos em enfermagem ingressantes e profissionais antigos destacaram a competência atitude como a mais percebida após a capacitação. Os indicadores assistenciais mostraram redução significativa nos valores de erros de medicação e de flebites e elevação nos índices de queda de pacientes, tendo melhora acentuada após a implantação do atual método de capacitação. As entrevistas com profissionais ingressantes indicam grande satisfação com o método implantado, o que coincide com as entrevistas realizadas com os profissionais antigos que destacam a atitude e os conhecimentos apreendidos pelos profissionais ingressantes como diferenciais do atual método. A triangulação destas evidências sugere que o método de capacitação existente reflete na elevação da qualidade do serviço assistencial prestado pelos profissionais ingressantes, apesar de estarem inseridos em um ambiente de alta rotatividade.