Resumen:
No Brasil, apenas uma pequena parcela do esgoto sanitário coletado é efetivamente tratado. Entretanto, no âmbito urbano há a geração de outros tipos de efluentes tais como lodos de tanques sépticos, neste caso considerado um efluente devido ao teor de água superior a 90%, efluentes de sanitários químicos e lixiviados de aterro sanitários, todos gerados a partir de atividades urbanas, e que necessitam de tratamento adequado para disposição final. O tratamento consorciado destes efluentes externos com esgoto sanitário tem sido utilizado como estratégia para diminuir os custos no tratamento. No entanto, devido a grande variabilidade de composição e concentração, estes efluentes têm difícil tratabilidade, principalmente em estações convencionais. Ainda não há consenso sobre os impactos provocados por esta mistura de efluentes sobre os processos de tratamento encontrados nas ETE's, nem sobre a proporção segura para a diluição a ser adotada em relação ao esgoto sanitário. A ETE Canoas - CORSAN possui um sistema de lodos ativados operando em batelada, tratando de forma consorciada esgotos sanitários, lixiviados de aterros sanitários, lodos de tanques sépticos e efluentes de sanitários químicos, sem uma quantidade máxima estipulada para o recebimento destes efluentes externos. Nesta pesquisa buscou-se caracterizar a mistura afluente e avaliar o impacto do tratamento combinado sobre as condições operacionais da ETE, bem como o seu desempenho na remoção de matéria orgânica e nutrientes, no período de janeiro de 2009 a agosto de 2010. Verificou-se que o percentual de diluição dos efluentes externos no ES variou entre 2,1% e 11,3% e que a contribuição destes efluentes para a carga total da DQO variou entre 14% e 74%. A composição físico-química da mistura afluente ao reator biológico influenciou na composição da microbiota presente no RSB. O impacto mais freqüentemente observado pela entrada de cargas de choque foi a perda de biomassa, devido a problemas de floculação e sedimentação, como o bulking. A ocorrência de cargas de choque decorrentes da entrada de efluentes externos promoveu um aumento do IVL de 46 mL/g para 287 mL/g, da mesma forma verificou-se um aumento da relação A/M, que passou de 0,42 d-¹ para 0,82 d-¹. Entre os metais pesquisados o Ca, Fe e K foram encontrados em maiores percentuais nas amostras de efluentes externos, correspondendo a 15,8%, 10,4% e 10,1%, respectivamente. Também foram detectados teores de Cu, Zn, Ti, Cr, em menores percentuais. No lodo biológico foram detectados 56% de Fe, 16% de Ca, 10% de Si e 8% de S, adsorvidos nos flocos, além Zn (4%), Cu (3%), Mn (1,5%) e K (1,2%). A exposição freqüente da microbiota a cargas de choque foi o principal efeito a colaborar no decréscimo das eficiências de remoção de SST, DBO5, DQO, Ptotal e N-NH4 +, prejudicando a qualidade do efluente final. A adoção de uma unidade de recebimento e tratamento preliminar dos efluentes externos permitirá um maior controle operacional na dinâmica de recebimento e tratamento dos efluentes externos, melhorando o desempenho da ETE.