Resumen:
Neste trabalho, buscamos entender o que Benveniste chama de comunicação intersubjetiva para, a partir dessa noção, examinar a natureza da interlocução que se estabelece toda vez que, na situação específica de enunciação em consulta ambulatorial, os interlocutores (médico e paciente) assumem a língua. Nesse processo, derivamos dos estudos de Benveniste, os conceitos de alocução e troca. Entendemos que a alocução resulta da reversibilidade entre eu e tu, sendo necessária ao estabelecimento do efeito pragmático da comunicação intersubjetiva. No entanto, ela não é suficiente para garantir a comunicação intersubjetiva, que está relacionada ao estabelecimento de troca, definida como a assunção pelos parceiros de uma posição de protagonismo na enunciação. Com base nessa elaboração teórica, analisamos uma consulta ambulatorial para observar se a tomada da palavra pelos interlocutores viabiliza (ou não) a troca entre ambos, capaz de instaurar a comunicação intersubjetiva. Os resultados da análise mostram que o estabelecimento de troca entre médica e paciente, nessa situação, institui-se como um processo descontínuo e contingencial, pois coloca em jogo fatores diversos, nem todos passíveis de ser identificados. Desse modo, podemos dizer que a comunicação intersubjetiva, na consulta examinada, se dá como efeito momentâneo, sempre que, na enunciação, o par eu e tu realiza movimentos em direção ao estabelecimento de uma troca. Concluímos, então, que a assunção, pelos participantes do diálogo, de um engajamento subjetivo na enunciação está sempre sujeita a oscilar no decorrer do processo.