Resumen:
Esta pesquisa centrou-se na análise de como se constituiu a Educação de Jovens e Adultos - EJA, enquanto política de elevação de escolaridade no município de São Leopoldo-RS, vista pela perspectiva dos sujeitos imbricados em sua concretização. Foi desenvolvida considerando o período de 1996 a 2010, envolvendo a criação e implantação do Projeto ―Aprender é Possível‖ ? Projeto de Alfabetização e Pós-alfabetização do município de São Leopoldo-RS, datado de 1996, até a ampliação e consolidação da EJA enquanto modalidade de ensino nesse município. A pesquisa buscou focar o olhar nos sujeitos que vivenciam e experenciam o espaço-tempo dessa modalidade, dando-lhes voz, para desvelar o sujeito real que estuda e trabalha nessa área. Dessa forma, escutamos os educadores que trabalham na formação dos jovens e adultos, para compreender as diferentes concepções que formam o mundo escolar, e os estudantes, para entendê-los na diversidade e captar as suas necessidades e seus desejos em relação ao tempo-espaço escolar, ao trabalho, entre outras questões. No envolvimento com o lócus da pesquisa, buscamos ser coerentes com a opção pela metodologia qualitativa por estar alicerçada em um embasamento teórico dialético, o qual nos possibilitou compreender os sujeitos que vivem a política municipal de EJA do referido município, de maneira que fosse possível desvelar e interpretar o que estava sendo dito e, por sua vez, o ―não dito‖. Assim, a categoria da ―contradição‖ alicerçou nosso trabalho. Utilizamos como ferramenta para a interpretação dos documentos utilizados a análise de conteúdo, baseada no referencial teórico de Bardin (1977). Essa escolha fundamenta-se por se situar numa abordagem crítica e por reconhecer a premissa do papel ativo do pesquisador na produção de conhecimento. Outro elemento metodológico relevante foi a opção pela abordagem do ciclo de políticas, formulada por Stephen Ball e Richard Bowe, para compreender as políticas locais em relação às políticas nacionais e internacionais e a importância que assumem os atores nesse contexto. Sinalizamos que quando as práticas educativas de EJA incorporam no cotidiano escolar uma perspectiva de trabalho autocriativa, ou seja, o trabalho como produção de vida e não o trabalho subsumido ao ―mercado de trabalho‖, há maior probabilidade de contribuir na/para a existência cidadã, tanto do professor quanto dos estudantes. A investigação apresenta a possibilidade de que as políticas públicas locais de EJA constituam-se em políticas contínuas de Estado e contribuam para a consolidação da Educação Básica, na perspectiva de assumir a condição humanizadora da educação, que se concretiza ao longo da vida através da educação formal, não formal e informal. Dessa forma, as políticas públicas de EJA, exercidas pelo viés da gestão democrática e dos direitos humanos e sociais, têm nas práticas educativas o lócus para construção de possibilidades de uma formação humana e social, na perspectiva de superação da compreensão da formação escolar fragmentada. Os sujeitos inseridos nesse contexto e que fazem a EJA na sua cotidianidade estão em busca de um ethos, que possibilite uma educação inclusiva e apresente contrapontos à escola que exclui. Além disso, destacamos, pela pesquisa, que a Educação de Jovens e Adultos desenvolvida pelo município de São Leopoldo apresenta-se, atualmente, como uma política de Estado de elevação de escolaridade do Ensino Fundamental, indicando, com isso, a possibilidade de que os Municípios exerçam um papel ativo nessa área, sem esquecermos, no entanto, a responsabilidade dos Estados e da União na garantia do direito à educação para todos e todas, em todas as idades.