Abstract:
A presente tese analisa os processos educativos de duas Comunidades Remanescentes de Quilombos - Arvinha e Mormaça - localizadas na área rural dos municípios de Coxilha e Sertão, norte do Estado do Rio Grande do Sul. Desde 2004 foram reconhecidas como comunidades remanescentes pela Fundação Cultural Palmares. Arvinha e Mormaça são comunidades que lutam pela manutenção e recuperação daqueles espaços geográficos que hoje ocupam, o que não é pouco, pois têm o propósito de um processo de trabalho autônomo e livre da subserviência. O processo investigativo utilizou-se das seguintes metodologias: observação participante, entrevistas individuais e coletivas e pesquisa documental. Buscou-se compreender as questões que rodeiam o território e sua territorialidade, especialmente de comunidades dos grupos étnico-raciais autorreconhecidas, que desde sua secular origem, lutam por esse espaço, pelo pertencimento àquele lugar. Como tese apresenta-se o argumento de que nestes mais de 160 anos de história, tais comunidades vêm estabelecendo estratégias de sobrevivência, que se entende como estratégias educativas de ensinar e de aprender para não terem suas descendências absorvidas nos espaços comuns da sociedade brasileira. Combinações estas que se basearam no modo de relacionarem-se entre si pelos princípios da dádiva e reciprocidade e constituíram prática que possibilitou coesão entre os seus membros, por meio da uma travessia iniciada no ?ajuntamento de pessoas?, criando aglomerações e posteriormente a formação de uma comunidade. São processos educativos que as comunidades têm experenciado em suas trajetórias e tidos como mais significativos àqueles exercitados nos seus cotidianos, no convívio da casa, com parentes próximos, com a vizinhança e num grupo maior, a comunidade. Trata-se, portanto, de processos educativos de ensinar e aprender não escolarizados, que perpassam toda a história pessoal dos sujeitos, aliadas, ainda, às relações de parentesco, de compadrio e de amizade simbolizadas nas uniões matrimoniais que, cultivados, fizeram com que se mantivessem esses espaços e não se retrocedesse na luta pela ampliação a originalidade das áreas.