Resumen:
Comer um produto local não significa apenas consumir um alimento produzido próximo à sua casa ou sua região, mas adquirir um conjunto de símbolos e significados que estão intrinsecamente ligados a um território, a uma cultura e/ou a um grupo de pessoas. O produto local está relacionado com a paisagem do seu território, os recursos naturais, o povo que ali habita e suas tradições. No entanto, muitas vezes, todos esses valores se perdem no meio do caminho, do produtor ao consumidor de tal produto. Existem diversas explicações possíveis para justificar o problema da falta de valorização dos produtos locais e, neste trabalho, é discutida a necessidade de uma mudança na lógica das operações de troca entre os diversos agentes. A pesquisa mostra a dominância do campo econômico e seus valores nessas operações. Com isso, a percepção do significado e do que representa a comida fica em segundo plano, passando despercebido algo fundamental: alimentamos-nos de determinada forma por causa de todos os significados e representações que aprendemos ao longo de nossas vidas. Comer, portanto, é um ato cultural. Assim, olhar a operação de troca de produtos locais com os valores do campo cultural atribui novas possibilidades aos agentes que fazem parte dessa cadeia. Nesse sentido, a dissertação traz uma reflexão sobre a possibilidade de descontinuidade na lógica atual por meio do projeto de um sistema que integre esses novos aspectos às relações. Com a intenção de compreender a dinâmica das operações presentes nos sistemas dos produtos alimentares locais, foram escolhidos como objeto de estudo dois produtos que já possuem certificação de origem: o Arroz do Litoral Norte Gaúcho e o Doce de Pelotas. Na perspectiva de uma nova lógica, o design estratégico ganha evidência ao projetar esses sistemas, desenvolver novas formas de os agentes relacionarem-se e negociarem os produtos locais, na medida em que possui a capacidade de estabelecer vínculos entre significado e materialidade dentro dos sistemas. Em um universo complexo, é preciso estabelecer a ênfase por soluções sistêmicas - típicas do design estratégico, que servem de suporte à busca pelo desenvolvimento sustentável. Fazer dessa instância uma estratégia de operação dentro do sistema produto-serviço favorece a conscientização dos agentes e, ao mesmo tempo, permite a obtenção de benefícios amplos para o ambiente, para a comunidade e para o produto. Ao promover essas mudanças no sistema local e, assim, estimular e facilitar uma ruptura do modo de fazer dominante, o design estratégico assume um papel de relevância na sociedade contemporânea.