Resumo:
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um local responsável por salvar vidas, um ambiente repleto de equipamentos, drogas, alta tecnologia e corpo técnico altamente qualificado. No entanto, medos, fantasias de morte, recordações e sentimentos colocam o paciente diante de um cenário que poderá deixar marcas mnêmicas capazes de gerar efeitos psicológicos importantes como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), afetando a qualidade de vida após a alta hospitalar. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de TEPT em pacientes que passaram por internação em UTI, levantar alguns fatores de risco e de proteção para TEPT a partir do registro de memórias trazido pelo paciente seis meses após a alta hospitalar e correlacionar TEPT, qualidade de vida, com recordações mnêmicas, dados sócio-demográficos e variáveis clínicas. Participaram do estudo 41 pacientes adultos que passaram por internação em UTI em um hospital geral de Porto Alegre, com idade média de 59 anos (DP=14,71). Os instrumentos usados foram: Inventário de Katz, Planilha de dados sócio-demográficos e variáveis clínicas, Memory Tool, WHOQOL-breve e SPTSS. A análise descritiva mostrou a prevalência de
TEPT na população estudada de 24,4%, usando-se um ponto de corte≥ 5.
As mulheres apresentaram mais TEPT do que os homens (X2=6,999, p<0,05) e o teste t mostrou que as lembranças mais significativas para os pacientes foram respectivamente: rostos (t=4,88, p<0,05), pânico (t=11,17, p<0,001), medo (t=6,99, p<0,05) e dor (t=4,02, p<0,05). As memórias afetivas associaram-se de maneira significativa (t=-2,28, p<0,05) ao TEPT, e as memórias delirantes correlacionaram-se de maneira significativa ao tempo de internação (r=0,46, p<0,001). O teste Qui-quadrado mostrou que variável clínica delirium apresentou-se estatisticamente significativa em relação ao TEPT (X2=6,16, p<0,05), as demais variáveis não foram significativas. A qualidade de vida dos pacientes sofreu abalo após internação do
ponto de vista geral, apresentando-se estatisticamente significativas em relação ao TEPT em todas as suas dimensões respectivamente: A análise de regressão hierárquica mostrou que as variáveis gênero e memórias afetivas mostraram-se preditoras de TEPT respectivamente: (β=0,44, p<0,01) e (β=0,46, p<0,01). Conclusão: O presente estudo identificou a prevalência de TEPT em pacientes seis meses após a
alta hospitalar e concluiu que, apesar de ter identificado dois preditores de TEPT –
gênero e memórias afetivas – novos estudos longitudinais são necessários, a fim
de conhecer em profundidade os fatores de risco e de proteção em relação ao TEPT.