Abstract:
Analisar as percepções e práticas de autocuidado de pessoas vivendo com AIDS, em acompanhamento em um serviço especializado, de nível secundário, em um hospital do município de Porto Alegre-RS. MÉTODOS: Estudo qualitativo e analítico que utilizou como técnica de investigação social a entrevista semi-estruturada. Foram entrevistadas 21 pessoas vivendo com HIV/AIDS em acompanhamento em um serviço de atenção especializada de um hospital estadual do município de Porto Alegre-RS, nos meses de setembro e outubro de 2009, maiores de 18 anos e com diagnóstico a partir de 1996 (ano em que iniciou a distribuição universal de antirretrovirais). A análise dos dados se deu por meio de categorização das entrevistas a partir das regularidades e das particularidades nas falas dos sujeitos entrevistados. RESULTADOS: O diagnóstico de HIV/AIDS mudou a forma de refletir sobre saúde-doença, a AIDS passou a ser um episódio biográfico na vida das pessoas entrevistadas. A AIDS se torna um marcador para o autocuidado, onde cuidado passa a ter diferentes significados e práticas. O corpo, a alimentação e o ambiente passam a ser alvos de maior preocupação em função do preconceito. O cuidado autônomo (anterior ao diagnóstico) passa a ser buscado e legitimado em serviços de saúde, onde o uso de medicação, a realização de exames periódicos e a interação com profissionais de saúde adquirem significados. Questões de gênero e tempo de diagnóstico interferem no autocuidado. As ações de autocuidado são solidárias e se estedem ao cuidado de outras pessoas. CONCLUSÕES: A partir da análise das entrevistas, é possível indicar que o cuidado se estabelece em diferentes níveis e no interior de diferentes relações e contextos. O autocuidado depende, assim, do lugar que a AIDS ocupa na vida de cada pessoa, salientando que a doença é uma construção social. A AIDS desempenha, para as pessoas entrevistadas, um papel de marcador para o cuidado no que se refere às trajetórias por elas relatadas. O cuidado está inscrito em diferentes níveis: dentro e fora do serviço de saúde; é individual e simultaneamente coletivo na medida em que é estabelecido no contexto das relações com os outros (família, amigos, colegas de trabalho) e com o ambiente.