Abstract:
Além dos poluentes convencionais, os contaminantes emergentes (CE), como os fármacos — detectados em níveis traço (µg/L a ng/L) e ainda não regulamentados pela legislação ambiental brasileira — têm recebido crescente atenção. Devido à sua persistência e especificidade farmacológica, impõem desafios significativos às ETAs e ETEs, projetadas sem foco na sua remoção. Com base nesse cenário, esta pesquisa avaliou, em seis campanhas e quatro pontos de monitoramento na ETE Unisinos do Campus São Leopoldo/RS, a eficiência do tratamento no decréscimo dos fármacos como Diclofenaco Sódico, Metoprolol e Ibuprofeno. A pesquisa ainda avaliou os parâmetros DQO, COT, pH e ozônio residual; além de realizar uma comparação entre duas técnicas analíticas de detecção de micropoluentes: UV254 e Cromatografia Líquida. A ETE Unisinos apresentou bom desempenho frente ao atendimento da Resolução CONSEMA nº 355 (2017), considerando os parâmetros pH e DQO, sendo este último apresentando eficiência média de remoção superior a 75%. Com relação aos fármacos, as concentrações de Ibuprofeno e Diclofenaco de Sódio no Esgoto Bruto variaram entre 21,10 – 950,66 ng/L e 24,58 – 4464,99 ng/L, respectivamente. O Ibuprofeno mostrou-se mais suscetível aos tratamentos aplicados, com 51,43% de remoção já no reator UASB, chegando a 65,03% após ozonização. O Diclofenaco de Sódio, por outro lado, apresentou maior persistência: apenas 4,83% de remoção no UASB e 35,47% após a etapa com ozônio. O Metoprolol foi identificado em apenas uma coleta, evidenciando a baixa concentração desse fármaco no esgoto da ETE Unisinos. Esses resultados permitem concluir que os processos biológicos utilizados na ETE da Universidade possuem boa eficiência para o decréscimo do Ibuprofeno, justificado por sua biodegradabilidade, porém parece carecer de melhorias para o tratamento do Diclofenaco de Sódio. A aplicação de ozônio demonstrou baixa eficiência na remoção dos fármacos, sugerindo que a concentração atualmente usada é insuficiente. As análises estatísticas indicaram uma forte correlação negativa entre diclofenaco e COT, o que significa que a remoção do fármaco ocorre junto com a diminuição da carga orgânica. O COT também apresentou correlação positiva com a DQO e com a absorbância em UV254, reforçando seu papel como indicador da matéria orgânica presente. O ibuprofeno mostrou correlação moderada com o UV254, sugerindo que sua presença influencia essa medida. Já o diclofenaco teve baixa correlação com o UV254, o que pode estar relacionado à sua maior resistência à degradação. Esses resultados sugerem que a medição em UV254 pode ser útil no monitoramento indireto de alguns micropoluentes, como o ibuprofeno. Esses resultados indicam que a ETE Unisinos atende aos parâmetros convencionais, mas apresenta limitações no tratamento de fármacos persistentes. O estudo destaca a relevância do monitoramento contínuo e de tecnologias avançadas no contexto do saneamento ambiental.