Abstract:
O presente estudo tem como objetivo analisar as configurações das dimensões de proximidade entre atores atuantes no Ecossistema Regional de Inovação (ERI) dos Vales, no Rio Grande do Sul, com base nos programas de fomento à inovação da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (SICT/RS). A pesquisa se baseia na abordagem teórica das dimensões de proximidades (geográfica, cognitiva, organizacional, social e institucional), conforme proposto por Boschma (2005), e busca identificar como essas dimensões influenciam a dinâmica de colaboração entre os atores do ecossistema, considerando também as barreiras e os efeitos de aprisionamento que podem surgir ao longo do processo. O problema de pesquisa que norteia este trabalho é o seguinte: como as configurações das dimensões de proximidades contribuem para a compreensão do funcionamento de um ecossistema de inovação emergente? Para responder a essa pergunta, foi adotada uma metodologia qualitativa, baseada na análise de conteúdo dos projetos de inovação financiados pelos programas da SICT/RS entre 2020 e 2023. A coleta de dados incluiu a análise de documentos oficiais dos projetos e entrevistas em profundidade com coordenadores de cinco projetos. A triangulação dessas fontes possibilitou uma análise detalhada das interações entre os atores-chave do ERI dos Vales. Os resultados revelaram que as dimensões de proximidades desempenham papéis distintos na construção das redes de colaboração. A proximidade organizacional é impulsionada por relações interinstitucionais prévias, facilitando a integração de novos projetos e parceiros. No entanto, a proximidade cognitiva se destaca como um fator crucial, pois a qualificação técnica dos atores envolvidos é determinante para a execução das atividades mais complexas dos projetos, sendo essa dimensão também uma barreira, já que a dificuldade em atrair e reter pesquisadores qualificados, devido ao baixo valor das bolsas de pesquisa, foi um problema mencionado de forma recorrente. A proximidade social, baseada em colaborações anteriores e laços de confiança, também demonstrou ser um fator de coesão, mas ao mesmo tempo demonstrou poder de gerar efeito de lock-in, limitando a inclusão de novos parceiros no ecossistema. A proximidade institucional pode ser observada, uma vez que as regras e exigências orçamentárias impostas pela SICT/RS criaram barreiras importantes, como o atraso na compra de equipamentos e reagentes, prejudicando o cumprimento dos cronogramas dos projetos. As entrevistas também revelaram que as prefeituras, enquanto parceiras institucionais, frequentemente apresentam dificuldades em alinhar seus processos burocráticos com as demandas inovadoras dos projetos, o que cria desafios adicionais para a execução das atividades previstas. Na discussão foi possível observar que, embora as dimensões de proximidades sejam importantes para o funcionamento do ERI dos Vales, as barreiras relacionadas à proximidade institucional e cognitiva representam obstáculos que podem comprometer a sustentabilidade do funcionamento do ecossistema a longo prazo. A flexibilização de políticas de inovação, aliada a uma maior valorização dos recursos humanos envolvidos nos projetos, poderia mitigar esses desafios, favorecendo o desenvolvimento de um ecossistema mais dinâmico e inclusivo. Conclui-se que, para o ERI dos Vales alcançar maior maturidade, é necessário um esforço coordenado entre os atores do ecossistema para superar as barreiras identificadas, especialmente no que se refere à proximidade institucional e cognitiva. A inclusão de novos mecanismos de confiança e incentivos à inovação nas prefeituras e outras entidades locais pode ampliar a diversidade de parcerias e fortalecer o ecossistema, tornando-o mais resiliente e preparado para enfrentar os desafios da inovação no contexto regional.