Abstract:
Você percebe a atmosfera que o envolve neste momento? Ainda que frequentemente passem despercebidas, as atmosferas estão presentes em todas as interações com o meio, afetando profundamente a forma como vivemos, sentimos e atribuímos sentido ao mundo. Mais do que meros cenários, elas se configuram como espaços afetivos, campos imateriais que, mesmo sem contornos fixos, exercem influência direta sobre nossas disposições corporais e emocionais. Esta dissertação parte de uma compreensão fenomenológica das atmosferas como condições relacionais e envolventes da experiência, investigando suas implicações no campo do design, com ênfase no design estratégico, foco desta pesquisa. Embora amplamente explorado em áreas como filosofia, sociologia, arquitetura e urbanismo, o conceito ainda é timidamente incorporado no campo do design. Ao reconhecer o design estratégico como uma abordagem já predisposta à escuta de aspectos sistêmicos e relacionais, esta pesquisa propõe que a atenção às atmosferas pode ampliar e aprofundar as práticas projetuais, ao integrar qualidades afetivas do espaço vivido. A investigação se desdobra em dois movimentos principais: O primeiro propõe uma sistematização conceitual do termo a partir de uma revisão teórica, resultando na formulação de cinco dimensões atmosféricas — presença estendida, tonalidade sensorial, fenômeno relacional, espaço flutuante e experiência corporificada — além de uma definição própria do conceito. O segundo movimento consiste em uma prática empírica exploratória com projetistas, conduzida por meio de uma deriva atmosférica. A experiência buscou sensibilizar os projetistas às atmosferas urbanas que os circundam, ressaltando a necessidade de uma postura projetual situada, encarnada e relacional. Nesse horizonte, o trabalho propõe a noção de lente atmosférica como uma disposição afetiva e crítica, capaz de afinar o designer às atmosferas existentes e, a partir delas, gerar condições para o surgimento de novos modos de habitar o mundo. Essa contribuição se desdobra na proposta de um design atmosférico, que, ao reconhecer o imaterial como matéria projetual, afirma-se como uma prática de orquestração e significação da realidade.