Abstract:
Esta tese investiga como as máquinas de imagens generativas, baseadas em Inteligência
Artificial (IA), podem criar mundos possíveis que ultrapassam a indexicalidade tradicional da fotografia, analisando as implicações epistemológicas desses novos regimes de
verossimilhança. Partindo do pressuposto de que a fotografia, historicamente, esteve
vinculada a um referente físico que garantia seu estatuto de verdade, examina-se como a
simulação algorítmica reconfigura a relação entre o real, o fabricado e o imaginário,
estabelecendo novas formas de credibilidade visual. O estudo busca compreender não apenas os fundamentos técnicos — algoritmos, arquiteturas de aprendizado de máquina e bancos de dados — que sustentam esses sistemas, mas também como a agência humana se transforma, migrando do ato fotográfico para a operação de prompts e a curadoria de resultados. A pesquisa caracteriza a ontologia das imagens generativas, contrastando seu processo de “engendramento” com o paradigma indexical da fotografia, e avalia de que modo a ausência de conexão direta com um referente físico desafia noções de autenticidade e verdade. Ao articular análise técnica e reflexão conceitual, investiga-se como a produção algorítmica de imagens expande os limites da imaginação humana, gerando repertórios visuais inéditos que mesclam códigos estéticos e referências culturais. Ao discutir as implicações epistemológicas da imagem-ficção produzida por IA, a tese propõe que esses novos mundos possíveis constituem não apenas um fenômeno tecnológico, mas também uma transformação cultural
que demanda a revisão de paradigmas teóricos e críticos sobre imagem, verossimilhança e conhecimento visual no contexto contemporâneo. Por fim, argumenta-se que compreender essa nova ecologia das imagens exige um olhar interdisciplinar, capaz de integrar teoria da imagem, filosofia da tecnologia e ciência de dados. Ao reconhecer que a visualidade contemporânea se constrói na intersecção entre agência humana e operação algorítmica, esta pesquisa busca oferecer subsídios teóricos e críticos para pensar o papel da imagem generativa na construção de artefatos visuais. Ao analisar nosso corpus, conclui-se que as imagens generativas não apenas expandem os modos de imaginar, mas instauram regimes de visualidade em que a criação de mundos possíveis se converte em prática coletiva, poética e epistêmica, tensionando fronteiras entre real e ficcional.