Abstract:
Cada vez mais, autistas compartilham suas próprias narrativas e conduzem suas pesquisas, registrando saberes e conhecimento. Essas experimentações são tão heterogêneas, quanto a condição de ser autista. Para além de teorizações sobre autismo, escrevem sobre suas observações e leituras de outros pares, colocam em cena múltiplos tipos de textos escritos em primeira mão. A experiência do autismo somada às teorizações da neurodiversidade e às teorizações do campo dos estudos foucaultianos em educação mobilizam a pesquisa que deu origem a esta Tese de Doutorado que tem como problema de pesquisa: Que operações sobre si mesmos os autores marcam em suas narrativas? A partir do problema e do manuseio precoce do material, definiu-se o objetivo principal da pesquisa, qual seja, problematizar as narrativas de si produzidas/escritas/publicadas por pessoas que se reconhecem autistas, a partir das
leituras, da sistematização e da análise dos conceitos de neurodiversidade, subjetivação e narrativas de si. Quanto ao campo teórico apresento como uma outra via que não é a da clínica, a da psicologização e da sintomatização dos indivíduos, mas a da singularidade em ser autista como parte da vida humana. No campo da neurodiversidade, estão filósofos, sociólogos, educadores, neurologistas, que defendem o autismo como mais uma variedade da existência de vidas plurais e diversas. Para tanto, constituíram
o material de pesquisa, 31 livros escritos por autores autistas. Do total, 26 foram analisados por serem escritos em primeira pessoa do singular ou por trazerem narrativas de si de seus autores. Por meio do modus operandi analítico, que buscou orientar-se pelas formas de subjetivação presentes nas escritas de si, foi possível visualizar três grandes formas de subjetivação dos sujeitos: (Re)conhecimento, diagnóstico e mascaramento.Cada uma delas permite concluir que o diagnóstico marca um ponto
comum a todos eles, ao dizerem que ele dá início a um processo de reconhecimento de si e passam a questionar o discurso sobre ser normal. A tese defendida no trabalho é que o diagnóstico em si não é algo ruim; porém, os usos dele é que subjetivam de maneiras distintas. O diagnóstico torna-se um definidor para si mesmos, pois, ao se reconhecerem como autistas, podem resistir às práticas de normalização. Afinal, trata-se de mais uma forma de vida que não pode ser eliminada, afastada. As principais contribuições do trabalho para o campo são o tensionamento do conceito de normalidade a partir da escrita autista.