Resumo:
Essa tese é composta por três artigos que analisam o comportamento da complexidade econômica e relatedness nas microrregiões do Brasil no período de 2002 a 2020. A literatura sobre complexidade econômica está em plena expansão, oferecendo evidências cada vez mais robustas sobre a configuração da estrutura econômica de um país e suas implicações para a geração de riqueza, o bem-estar da população e temas correlatos. Porém, lacunas importantes ainda persistem quanto aos seus efeitos sobre o crescimento econômico e desigualdade de renda formal, principalmente em países em desenvolvimento. Ao analisar o nível microrregional, levamos em conta as dinâmicas de heterogeneidade temporal e espacial, ao passo que utilizamos dados confiáveis da realidade regional e controlamos os fatores não observados. No primeiro artigo
efetua-se a análise da complexidade econômicas das atividades e verifica-se a evolução do padrão da distribuição espacial da complexidade econômica e relatedness (proximidade cognitiva de atividades) nas microrregiões brasileiras por meio da Análise Exploratória de Dados Espaciais (AEDE). Os resultados demonstram que as atividades produtivas com maior complexidade econômica estão no setor de Indústrias de Transformação, seguida por Atividades de Informática e Serviços Relacionados. Verifica-se que existe dependência espacial positiva da complexidade econômica e relatedness, ou seja, a existência de alta concentração espacial em algumas regiões, que é influenciada pelo cenário econômico - evidenciado pela tendência de elevação da
concentração espacial após a crise brasileira de 2015/2016 no caso da complexidade. Observa-se que a formação de clusters do tipo alto-alto (alta complexidade e relatedness na microrregião e nos vizinhos) se encontra principalmente nas regiões Sudeste e Sul em todo o período, representando disparidades de capacitações produtivas no território. No segundo artigo, são examinados os efeitos da complexidade econômica e relatedness sobre o crescimento econômico das microrregiões brasileiras. Para tal, foram aplicados modelos dinâmicos de dados em painel espacial (SDM, SDGMM-SYS e SDGMM-DIF) com instrumentos, com as 558 microrregiões do Brasil, usando dados de emprego para as 59 atividades econômicas no período. Os resultados sugerem que elevações nos níveis de complexidade econômica e relatedness são associadas a elevações
no PIB per capita microrregional. Adicionalmente, são encontrados efeitos desiguais da complexidade econômica sobre o crescimento econômico quando examinadas separadamente as grandes regiões no Brasil. Por fim, no terceiro artigo, investiga-se a influência da complexidade econômica e da relatedness sobre a desigualdade regional de renda formal no mercado de trabalho brasileiro. Para isso, são utilizados os dados de emprego para cada atividade econômica nas 558 microrregiões do Brasil no período analisado. O estudo emprega modelos de regressão de painel de efeitos fixos dinâmicos e o Método dos Momentos Generalizados (GMM) com a utilização de instrumentos. Os resultados revelam que tanto a complexidade econômica como a relatedness influenciam na redução da desigualdade de renda no mercado de trabalho formal, sendo que o efeito da complexidade econômica se destaca particularmente nas microrregiões
caracterizadas com alta desigualdade de renda no período inicial. Estes resultados constituem uma contribuição original para o contexto regional brasileiro, destacando os transbordamentos virtuosos da complexidade econômica e proximidade cognitiva das atividades econômicas sobre a redução da desigualdade de renda. Em síntese, esta tese demonstrou que a complexidade econômica e o relatedness têm efeitos positivos sobre o crescimento econômico e reduzem as desigualdades de renda formal microrregional no Brasil. Estes achados reforçam a necessidade de políticas públicas que promovam a complexidade econômica, a diversificação produtiva e as capacitações regionais, especialmente nas regiões historicamente desfavorecidas.