Abstract:
A Burocracia de Médio Escalão (BME), intermediária ao Estado, é pouco estudada como objeto de análise. A implementação, lócus de sua atuação, possui alguns conteúdos de políticas, como a do esporte universitário (EU), que recebe pouca atenção da política nacional. Assim, este estudo visou explicar como agiu a BME, de que forma influenciou o conteúdo de política pública (PP) e o que isso importou num contexto de implementação pouco regulado e financiado. O objetivo geral da pesquisa foi analisar, no período de 2003 a 2022, como a atuação da BME afetou a implementação do EU enquanto conteúdo de PP numa universidade pública federal brasileira mediante contexto de pouca regulação e financiamento. E os específicos foram: entender a trajetória histórica e as mudanças que culminaram na conformação da implementação do EU enquanto conteúdo de PP; mapear e compreender os aspectos da estrutura da implementação do EU local no período pesquisado; e contribuir para o debate analítico da atuação da BME enquanto ator-burocrata na implementação. Utilizou-se das lentes analíticas estrutural e relacional, bem como da pesquisa documental e a entrevista semiestruturada, além da análise de dados técnica de análise de conteúdo categorial temática. O caso empírico foi uma universidade federal da região Centro-Oeste. Foram entrevistados BMEs, acadêmicos/atleticanos e presidentes da federação esportiva universitária. Houve evidências de que o EU gestado por acadêmicos/atlética não encontrou apoio institucional e pereceu. A BME, um ator incidental, com biografia individual ligada ao esporte na instituição, assumiu essa função e mediante contexto de pouca regulação, utilizou-se de sua autonomia e
discricionariedade, construiu um instrumento (padrões de ações) que se firmou como uma
norma interna e buscou financiamento via interações junto ao alto escalão, possibilitando a operacionalização perene do EU. Utilizando-se também das suas características técnico-política e técnico-gerencial, tanto operacionalizou quanto agiu de forma política para garantir ganhos para o conteúdo de PP. Porém, constatou-se a ausência de agrupamento coletivo, o que dificultou uma análise de sua atuação no plano ideacional. Seguiu próximo aos atores diretos e conseguiu legitimar uma centralidade (ainda que não pensada) por meio de valores compartilhados. Suas relações extrapolaram a implementação e atingiram atores de dentro e de fora da instituição superando o engessamento estrutural, ainda que, os atores diretos e do entorno foram os que mais estiveram no seu raio de interações. Dessa forma, a atuação da BME
na implementação demonstrou que somente da norma não brota a implementação, que é
possível institucionalizar determinados instrumentos dentro de um contexto institucional
favorável e que a biografia individual também contribuiu para esse intento.