Resumen:
Em países em desenvolvimento como o Brasil, a educação é um dos principais pilares para o progresso socioeconômico, desempenhando um papel fundamental na formação de gestores públicos, na qualificação da população e na redução das desigualdades sociais e educacionais. Investigar como a educação pode impulsionar a inteligência das cidades é essencial para criar ambientes urbanos mais eficientes, sustentáveis e inclusivos. Embora sua importância seja amplamente reconhecida, o impacto da educação de qualidade no desenvolvimento de cidades inteligentes brasileiras ainda é um campo pouco explorado. Neste contexto, a presente pesquisa investiga de que forma a qualidade educacional se relaciona com o desenvolvimento de cidades inteligentes. O estudo emprega a Teoria Geral dos Sistemas para analisar as cidades como sistemas complexos, dinâmicos e multidimensionais, e utiliza um modelo econométrico de dados em painel para testar empiricamente essa relação. O modelo utilizou dados transversais (de 183 cidades) e temporais (de 2015 a 2023) para analisar a relação de variáveis de diferentes dimensões urbanas com o desenvolvimento de cidades inteligentes, tendo com variável dependente a nota do ranking de cidades inteligentes e como variável de interesse a qualidade educacional. Para aumentar a robustez e reduzir o viés da análise, foram incluídas variáveis de controle no modelo. Primeiramente, foram utilizadas variáveis de controle derivadas das sete dimensões urbanas previamente identificadas na literatura: ambiente natural, infraestrutura urbana, economia, pessoas, governança, organizações, e tecnologia e inovação. Depois, para mensurar a qualidade educacional foram utilizados oito indicadores de educação como proxys, são eles: nota do Enem, média de alunos por turma, média de horas-aula diária, distorção idade-série, taxa de aprovação, taxa de abandono, adequação da formação docente e regularidade do corpo docente. Os resultados mostram que, mesmo criando uma série de painéis e adicionando novas variáveis de controle, a qualidade educacional permanece positiva e significativa para a maior parte dos indicadores de qualidade: um aumento de 1% nas notas do Enem indica um acréscimo de 1,13% nas notas das cidades no ranking; a redução de 1% na taxa de distorção idade-série sugere um aumento de 0,106% nas notas; enquanto o aumento de 1% nas taxas de aprovação escolar pode aumentar em 0,34% as notas das cidades. As variáveis média de alunos por turma e média de horas-aula diária, embora tenham sido significativas nos primeiros modelos, perderam significância conforme novas variáveis foram sendo adicionadas. As variáveis adequação da formação docente e regularidade do corpo docente não foram significativas. No que tange às variáveis associadas às dimensões urbanas, os resultados indicam que o aumento no número de médicos e a redução do número de latrocínios afetam positivamente o desenvolvimento das cidades. Os resultados ressaltam a complexidade da interação entre a educação e o desenvolvimento urbano e indicam que quanto maior a qualidade educacional, melhor a chance da cidade se desenvolver enquanto espaço inteligente. Os achados sugerem, ainda, que políticas públicas bem estruturadas devem abordar de maneira integrada as múltiplas dimensões da qualidade educacional nas estratégias de desenvolvimento urbano. Este estudo contribui com a teoria ao explorar o efeito da qualidade educacional sobre o índice de cidades inteligentes brasileiras. No que tange às contribuições gerenciais, esta pesquisa gerou resultados importantes para a criação de políticas públicas voltadas aos indicadores educacionais. Estudos futuros podem ampliar a análise com um maior número de indicadores educacionais e urbanos. Também sugere-se investigar os efeitos da educação de qualidade no desenvolvimento urbano a longo prazo, especialmente em relação ao impacto de novas políticas públicas no desenvolvimento de cidades inteligentes.