Resumo:
Causada pelo acúmulo da proteína beta-amiloide e pela presença da proteína tau, a Doença de Alzheimer (doravante DA) gera a morte de neurônios e a perda de sinapses nervosas que desencadeiam sintomas os quais afetam não só o indivíduo acometido como as pessoas ao seu redor e, em nível macro, a sociedade. Diante do cenário de envelhecimento populacional, a preocupação a respeito dessa patologia neurodegenerativa tem ganhado destaque em diferentes áreas. Porém, frequentemente, as pesquisas desenvolvidas no contexto da DA ainda sem causa e cura identificadas (McDade; Bateman, 2017) reforçam um estereótipo limitante e homogeneizador. Aspectos como gênero e trajetória de vida são apagados, e enfatizam-se os déficits que a doença causa. Nesse cenário, a presente pesquisa tem como objetivo compreender como ocorre a construção de identidades em narrativas de mulheres com a DA em interações. Este trabalho insere-se no campo da Linguística Aplicada e é de cunho qualitativo interpretativista. Os dados foram gerados em entrevistas abertas, compreendidas como eventos discursivos de coconstrução de sentido entre os interlocutores (Mishler, 1986), com três participantes, seguindo a abordagem de pesquisa narrativa. O arcabouço teórico-metodológico empregado para a análise das entrevistas é constituído pelas dimensões da narrativa de Ochs e Capps (2001) e pelos níveis de posicionamento discursivo de Bamberg (1997). Os resultados evidenciam que as participantes, apesar das dificuldades causadas pela DA, conseguiram manter-se ativas nas interações. Por meio das narrativas, construíram suas identidades marcadas por posicionamentos morais diante de discursos recorrentes na sociedade em que estão inseridas.