Abstract:
O desenvolvimento da pesquisa doutoral intitulada: “Ludwig Wittgenstein: A Religião
que dá sentido à vida” teve como objetivo a tentativa de dissolver o problema do
evidencialismo e suas repercussões da Filosofia da Religião contemporânea. Perpassamos pelo princípio de Clifford, que é conhecido como uma crítica à justificação da crença religiosa. Mesmo sem fazer referência direta, o texto de Clifford está repleto de alusões bíblicas e, segundo Hick (1983), tem sido um lastro para a chamada Filosofia Analítica da Religião. Assim, entram, nesta pesquisa, a consideração a respeito do uso específico dos termos nos enunciados religiosos e das relações lógicas entre as asserções religiosas, e entre estas e outros tipos de asserções; da legitimidade de interpretá-las como factuais ou, pelo contrário, da possibilidade de reinterpretá-las como puramente expressões de atitudes místicas, estéticas ou morais. A avaliação dos limites e da própria complexidade da forma de vida na qual os conceitos de crença religiosa e sentido da vida encontram sua aplicação. Nesse viés, a metodologia utilizada nesta investigação teve o enfoque bibliográfico. No primeiro capítulo, procuramos mostrar que, na dinamicidade da filosofia analítica, há possibilidade de se poder falar de uma filosofia analítica da religião e, nesta seara, referir-se à tendência filosófica de Wittgenstein, na qual podemos localizar as nuances do seu pensamento religioso em cada uma das fases
do seu desenvolvimento filosófico e de seu complexo relacionamento com uma
epistemologia da religião. No capítulo dois, o objetivo foi apresentar a concepção de
religião pós-Tractatus, por meio da demonstração de como as ideias do Wittgenstein
foram desenvolvidas pelos comentadores: Micheletti (1972; 2007;2002), Child (2011;
2013) D.Z. Phillips (1970; 1976; 1981; 1993; 1995. 2001; 2006; 2013), Nielsen (1967;
2001; 2005), Duncan Pritchard (2012;2016;2017; 2018) que defendeu um "fideísmo
moderado" inspirado em Wittgenstein. No capítulo terceiro, desta tese, objetivamos
especificar como o conceito de “crenças religiosas”, em Wittgenstein, pode deslocar
os sujeitos da linguagem do polo de suas certezas epistemológicas para uma fundamentação do sentido da vida. A fim de ver por que, no entanto, há outra peça do
quebra-cabeça que precisamos colocar em prática, sobre a natureza de nossas crenças religiosas. Nesta senda, enveredamos no quarto capítulo para a fundamentação da concepção de vida vivida sub specie aeterni, Wittgenstein aponta para o homem que pode, até mesmo, sentir o sofrimento, a angústia da vida, mas o desejo de eternidade não pode ser explicado por nenhuma teoria. Dessa forma, a pesquisa apontou para as limitações dos discursos da teologia, da ciência e da própria filosofia para fundamentação do discurso religioso. Mas, qual seria o fundamento filosófico para pensarmos a espiritualidade laica e dissolver o problema do evidencialismo? Abordamos da seguinte maneira: a resposta de Wittgenstein é que seria a Boa Vida, a vida feliz, a saber: a vida vivida sub specie aeterni. Quando mencionamos a expressão: Vida vivida sob a perspectiva specie aeterni, indicamos que a vida deve ser vivida com aceitação da nossa existência, ou seja, viver de acordo com a facticidade do mundo. Wittgenstein no Tractatus afirma: “A intuição do mundo sub specie aeterni é sua intuição como totalidade – limitada” (TLP, 6.45). Mais adiante ele aponta: “O sentido do mundo deve estar fora dele.”