Abstract:
A presente tese examina o problema da identidade das emoções na filosofia de Platão, situando sua abordagem híbrida no debate contemporâneo entre teorias cognitivas e não cognitivas. Por meio de metodologia bibliográfica comparativa, propomos que a abordagem híbrida platônica apresenta as emoções como estados que envolvem e integram elementos de ambas as teorias em uma perspectiva holística ou não redutivista. Para tanto, o trabalho está dividido em três capítulos principais. No primeiro capítulo, examinamos criticamente três abordagens teóricas ao problema da identidade das emoções, a saber, a teoria cognitivo-avaliativa de Martha Nussbaum, a teoria das avaliações corporificadas de Jesse Prinz e as teorias híbridas de Peter Goldie, Bennett Helm e Jan Slaby. Dedicamos especial atenção às duas primeiras teorias, consideradas como o estado da questão (status quaestionis) no debate sobre a relação investigada. Como objetivo secundário, posicionamo-nos em relação a essas teorias, argumentando a favor de uma abordagem híbrida, ou integralista entre ambas perspectivas. No segundo capítulo, iniciamos a explicitação da abordagem platônica sobre a identidade das emoções por meio de uma reconstrução de sua Teoria da Tripartição da Alma, com base nos diálogos República e Fedro. Destacamos a relação interdependente entre as partes da alma em Platão, ressaltando a perspectiva holística que ele adota ao tratar das emoções como mediadoras entre os polos de logistikon (“parte racional”) e epithumetikon (“parte desejante”). O terceiro capítulo analisa o diálogo Filebo de Platão, onde encontramos uma versão matizada de sua abordagem híbrida. No Filebo, emoções são descritas como misturas (meixis) entre prazer e dor, que envolvem memória (mneme), percepção sensível (aisthesis), desejo (epithymia) e imaginação (phantasia). Sob esse horizonte, Platão propõe uma abordagem híbrida das emoções, enquanto fenômenos complexos que resultam da interação dinâmica entre diferentes faculdades da alma. Por fim, mostramos que, ao transcender as dicotomias entre teorias cognitivas e não cognitivas, Platão também oferece uma perspectiva compatibilista das emoções que enriquece o debate contemporâneo sobre sua identidade, destacando a necessidade de uma compreensão mais abrangente e integrada dos estados emocionais.