Resumo:
O presente estudo observa e analisa processos audiovisuais de mulheres musicistas das cenas musicais independentes de Porto Alegre e de Milão durante a pandemia da Covid-19, desdobrados em suas audiovisualidades plataformizadas. O referencial teórico tem por base audiovisualidades, tecnocultura, lógicas e dinâmicas de cenas musicais independentes, e questões de gênero e música junto a aspectos da interseccionalidade. Os procedimentos metodológicos contemplaram a determinação de um perfil das musicistas, que são cantoras, compositoras e instrumentistas, e que lançaram trabalhos musicais em plataformas de música com um interessante uso do audiovisual para sua divulgação em plataformas de redes sociais, diante das medidas que visavam à contenção da disseminação do vírus da Covid-19. A partir disso, foram realizados os demais movimentos para a constituição do corpus a partir da perspectiva das cartografias, com a flânerie para o mapeamento de artistas, seus lançamentos, seus audiovisuais e outras profissionais que fazem as cenas acontecerem; a realização de entrevistas com estas mulheres; e a utilização de métodos digitais para a extração de dados dos perfis das musicistas da plataforma Instagram, de modo a construir uma amostra dos audiovisuais publicados no período para lançamento de projetos musicais. Junto a isso, foram realizados procedimentos de codificação/estruturação de coleções para categorização, e de organização das constelações Audiovisualidades plataformizadas pandêmicas e Redes musicais e gênero, para fins de análise. Concluímos, com esses movimentos, ter compreendido como os processos audiovisuais das mulheres musicistas durante a pandemia da Covid-19 atualizaram o ethos DIY de suas cenas musicais. As artistas lidaram com as limitações do contexto da pandemia, das lógicas artísticas do ambiente plataformizado e de suas circunstâncias como mulheres em uma sociedade com uma ainda profunda desigualdade de gênero. Para tanto, utilizaram recursos possíveis para a realização de seus audiovisuais, as affordances das plataformas e se posicionaram, em imagem e texto, como compositoras, cantoras e instrumentistas. Como resultado, efetivaram a construção e o fomento de rede com o público e com demais integrantes das cenas musicais, articulando seu crescimento e sua representatividade, e dessa forma atualizando o ethos DIY das suas cenas musicais.