Resumen:
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar, nas verbalizações de uma professora de Língua Portuguesa em formação continuada, quais aspectos sobre o trabalho de ensino de recursos linguísticos são por ela tematizados na interação com formadores/as universitários/as. Além disso, espera-se refletir criticamente sobre o trabalho com análise linguística no ensino de língua portuguesa em contexto escolar. Para a realização da pesquisa - um estudo de caso de natureza qualitativa (FLICK, 2009; CRESWELL, 2007) -, utilizamos como fundamentação teórica os aportes teóricos do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999; 2006a; 2006b; 2008; 2013), bem como os pressupostos da prática de análise linguística (GERALDI ([1984] 2011; [1991] 1997; FRANCHI, [1988] 2006; MENDONÇA, 2006a, 2006b; SIMÕES et al., 2012; SUASSUNA, 2012; GIL; SIMÕES, 2015; BEZERRA; REINALDO, 2021). Para a análise dos dados, foi utilizado o modelo de arquitetura textual proposto por Bronckart (2008;1999), a partir do qual realizamos a análise discursiva em relação a elementos do trabalho docente (MACHADO, 2007; BRONCKART; MACHADO, 2009), aos modos de ensino de recursos linguísticos e aos instrumentos, capacidades, intenções e motivos para o agir docente (BRONCKART, 2008). Os resultados evidenciam uma tensão explícita entre o que se compreende como um ensino tradicional de gramática x um ensino de recursos linguísticos centrado na prática de análise linguística. Essa tensão é perpassada pela visão que a professora aparenta ter sobre quais são as finalidades de seu agir em relação a (in)compreensões dos/as estudantes sobre determinados usos de recursos linguísticos em suas produções textuais. Além disso, observou-se que a interação verbal em sala de aula por meio de perguntas e respostas motivadoras de categorização e identificação de determinado(s) recurso(s) linguístico(s) segue sendo o principal instrumento mobilizado e que há uma visão de que é tarefa essencial da aula de língua portuguesa operacionalizar o trabalho com metalinguagem, independentemente da relação (ou não relação) que essa metalinguagem possua com o desenvolvimento da linguagem dos/as aprendizes. Esses resultados podem contribuir para uma melhor compreensão da complexidade que existe no agir docente em relação à prática de análise linguística, bem como para promoção de ações formativas sobre esse tema.