Abstract:
A presente tese de doutorado consiste em uma investigação acerca do problema do
niilismo na filosofia de Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844–1900). Tratou-se de reavaliar a
situação do niilismo em Nietzsche, procurando uma resposta que, consistente, fosse capaz de solucionar os principais desafios levantados por esse problema. Nesse propósito, buscou-se, inicialmente, conceituar de modo mais claro possível o niilismo, sem deixar de lado, contudo, suas nuances e complexidades inerentes, estabelecendo-se assim as condições sine qua non da superação. Passo seguinte, procedeu-se com o desenvolvimento e o exame crítico e reflexivo das três principais noções que emergem da experiência proporcionada pelo niilismo, a saber: as noções de devir, vontade de poder e de eterno retorno do mesmo. Também se tratou de trazer a lume as interpretações e propostas de superação do niilismo que mais têm destaque em cada uma das “linhas de pensamento” suscitadas por tais noções. Isso, todavia, foi feito não somente com a intenção de se verificar a legitimidade dessas contribuições, mas, sobretudo, com o
intuito de estabelecer referências que tornassem viável uma abordagem mais completa do problema. Examinou-se, em seguida, duas teses que apresentaram possuir condições de sanar as dificuldades até então deparadas: a de Luis Enrique de Santiago Guervós e a de Gianni Vattimo. Não tendo sido possível chegar a uma resolução que desse conta de suprir determinadas dificuldades de importância primacial em toda a problemática, procurou-se dar um passo além das alternativas ali oferecidas: procurou-se, através de uma interpretação inovadora do pensamento do eterno retorno, uma perspectiva que fosse capaz de proporcionar uma resposta eficiente àquele que é, com certeza, o supremo desafio imposto pelo niilismo: o desafio de prover o existente de uma orientação adequada. Assentada sobre o caráter reflexivoexistencial do pensamento de que tudo retorna eternamente, a proposta então apresentada tem como enfoque principal oferecer uma orientação capaz de suprir a carência de sentido de ser da existência humana, mas também de a prover de uma razão satisfatória. Todavia, ela também mostra ser eficiente na resolução de impasses secundários, como aquele inerente ao imperativo nietzschiano derivado da figura do Übermensch e o associado à interpretação habitual da fórmula do amor fati.