Abstract:
Esta Tese problematiza a literatura na escola a partir da questão de pesquisa: como as práticas literárias na escola podem operar como equipagem no enfrentamento da violência ética? Como ferramental conceitual trabalhou-se com os conceitos de cuidado de si e equipagem em Michel Foucault; violência ética em Judith Butler; literatura como crítica da violência em Ricardo Timm de Souza; a literatura com os autores Jorge Larrosa; Antônio Candido; Michèle Petit, entre outros. Os caminhos metodológicos se deram através da criação de um espaço online de formação de professores de redes públicas das cinco regiões do Brasil, os quais foram realizados por meio de grupos focais e experimentação de um clube de leitura trabalhando a obra Quarto de despejo: diário de uma favelada (Carolina Maria de Jesus), com fragmentos de Diários 1909-1912 (Franz Kafka) e O diário de Anne Frank (Anne Frank). A partir da gravação dos encontros, da escrita nas oficinas e de diários das professoras, buscou-se pensar a questão de pesquisa por meio dos seguintes objetivos: identificar quais as práticas de literatura utilizadas na escola; compreender a relação da literatura com a violência ética, com a escola e com os processos de subjetivação; potencializar as práticas literárias entre as professoras, como brechas no enfrentamento das questões cotidianas, criando condições de possibilidades para outras experiências com a literatura na formação de professores.
Deste processo investigativo construiu-se duas regularidades analíticas, examinadas
com inspiração no conceito de subjetivação em Foucault. A primeira delas discutiu o
não-direito à literatura como violência ética. A segunda regularidade tratou da formação de professores a partir de um exercício de fruição literária, escrita e conversação. As professoras trouxeram a literatura vinculada à viagem; a não estarem sozinhas; a se apaixonarem mais uma vez por um texto; a pensar e pensarse de outros modos; a infancializar-se com tempo para ler e escrever novamente; à apresentação dos clássicos, autores contemporâneos e locais para os recémchegados; à necessidade sensório-motora de sentir os livros; a lidação com livros, HQ, cordéis, poemas voadores, festas de rua, museus, bibliotecas.