Resumen:
Esta dissertação se constitui da teorização, experimentação e da análise de oficinas de escrileitufagia desenvolvidas na interface entre literatura, artes e filosofia pela própria pesquisadora em uma turma de nono ano de uma escola da rede pública do município de São Leopoldo/RS. Sendo assim, esta Dissertação tem como objetivo analisar como inventar outras relações com a escrita na escola, consigo e com os outros a partir
da elaboração de manifestos de rexistência, tomando a antropofagia como conceito e método e a escola como inventora de povo. Operei com os conceitos de antropofagia, manifesto, escola popular e escrita e leitura como ferramentais analíticos. Como material empírico, utiliza objetos de arte e escritas desenvolvidos pelos alunos e alunas durante as oficinas entre maio e dezembro de 2023, marcados por lutas contemporâneas, modos de existência e experimentações artísticas. Nesse percurso, fez-se importante atentar para os deslocamentos produzidos a partir do contato com as referências apresentadas e as experimentações com a escrileitufagia na escola. Tal organização e processo de criação artístico-literário está intimamente ligado a ritualística antropofágica. Para tanto, a pesquisa compõe uma analogia estrutural de um corpo a ser antropofagizado, performando um corpo-manifesto a ser devorado substancialmente por cada leitora que com ele ousar se relacionar, substituindo a organização por capítulos, por momentos de deglutição, contanto histórias de devorar outros corpos. Utiliza como base metodológica a antropofagia e as estilísticas de existência, colocando foco nas possibilidades de subjetivação a partir de práticas de escrita e de leitura, tomadas pelo viés não utilitarista e não mercadológico. No decorrer das análises mostra a emergência de temáticas sensíveis aos alunos, delineando modos de existir que problematizam suas vivências no presente a partir da elaboração de manifestos de rexistência de suas próprias experiências e da relação com as discussões filosóficas, tais como o racismo, a misoginia, a gordofobia e a desigualdade social. Por fim, dá a ver as relações que durante o processo de pesquisa foram tecidas e que fazem desse corpo-manifesto uma manifestação de existências outras, plurais e marginais insurgentes, que outraram-se a si mesmas pela e com a relação com outrem, produzindo alteridades e possibilidades de outros espaços. Relações que manifestaram existências inconstantes, dizendo-a-antropofagia como verdade de si, que pertence a si, mas que seja de bem-comum, pertence a si como a todos e a qualquer um, para o outro, francamente e tecnizadamente assumindo riscos da relação e se manifestando no tecimento do próprio corpo, de sua própria vida como espaço heterotópico. A partir, pois, de duas dimensões de análise: outrar-se e a constante lúdica viveu-se outras possibilidades na escola via leitura e escrita. Verdades-tropicais da inconstância da existência. Outrar-se com a relação. Outrarse com a arte. Outrar-se com a filosofia. Outrar-se com a literatura. E, sobretudo, outrar-se com a proposição de que cada um se relacione com esse corpo-manifesto plural a seu modo, pois a pesquisadora se entrega corajosa e virtuosamente para que cada leitora a antropofagize e se outre com suas linhas a seu modo. Relacione-se e devore-a. A vida é devoração.