Abstract:
Contar uma experiência por meio da própria experiência. Essa é a intenção que se mostra no exercício da escrita deste trabalho, que teve por objetivo estudar de que
modos mulheres estudantes da EJA se ocupam de si a partir de suas escritas e das
escritas de outras mulheres. Partiu-se da perspectiva da filosofia da diferença e dos
estudos feministas para analisar as práticas discursivas a respeito das concepções do
feminino, destacando questões históricas, culturais e sociais na realização de um estudo sobre as mulheres e a escrita, considerando como se articulam as relações de saber-poder e os seus efeitos de subjetivação. A metodologia teve inspiração na cartografia, por meio de experimentações em oficinas de leitura literária e escrita, com uma turma de Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos (EJA), de uma escola pública da cidade de São Leopoldo/RS. Procurou-se estabelecer uma relação entre gênero, escrita e escola, articulando esses conceitos a partir das teorizações de Michel Foucault sobre o cuidado de si, a escrita de si e a ocupação de si. Apesar da impossibilidade de narrar uma experiência, esse texto é uma tentativa de articular autoras/es e fragmentos advindos dos encontros proporcionados na trajetória de pesquisa. Nessa pesquisa-oficinagem foram realizadas experimentações filosóficas a partir de obras literárias de autoria feminina. Alguns dos elementos que compõem essa escrita são as relações de gênero, as interseccionalidades, a escola e o pensamento filosófico, com os quais busco dialogar inspirada nas narrativas e escritas das alunas e dos alunos que me acompanharam nesse percurso. Escritas essas marcadas pela raiva e pelo sofrimento e como uma possibilidade de fazer-outra. Escritas atravessadas por narrativas femininas ao longo das histórias das estudantes da EJA. Escritas que abrem um tempo e um espaço na educação de Jovens e Adultos, tão marcada pelo pragmatismo e aceleração, para ocuparem-se consigo e com as demais. Um tempo que proporcionou sentir mais uma vez, pensar mais uma vez e tomar a discussão sobre o feminino para estudo no espaço coletivo da sala de aula por meio da escrita. Ao longo dessa pesquisa-experiência-oficinagem, os desdobramentos demarcam a potência da relação entre educação, filosofia e literatura feminina, a qual provoca rupturas, descontinuidades, transformações, ocupações e abre brechas à constituição de outros modos de existência.