Abstract:
As ocupações secundaristas de 2016, no Rio Grande do Sul, foram um movimento
social de resistência dos estudantes do ensino médio às políticas educacionais neoliberais do governo estadual, as quais precarizavam a escola pública, de modo a
diminuir a sua qualidade. A fim de compreender os tensionamentos e questionamentos promovidos/provocados pelo movimento social e estudantil nesse cenário, utilizamo-nos do referencial teórico crítico, em que o materialismo histórico e dialético sintetizam a materialização histórica da sociedade (e, nesse caso, das políticas educacionais) na realidade objetiva das pessoas envolvidas no processo educacional. Assim, observa-se o movimento do real, além de relacionar as tensões, enfrentamentos e desafios provocados pelas ocupações das escolas públicas nas políticas educacionais na REE/RS. Para tanto, referenciamo-nos em Saviani, Cury, Paro, dentre outros. Também nos servimos da perspectiva pós-crítica, ao observarmos que, além das mudanças objetivas promovidas, o movimento estudantil reverberou ressignificações subjetivas nos sujeitos. Para referenciar essa perspectiva, os autores que serviram de base foram, especialmente, Groppo, Martuccelli, Dubet, Laval e Dardot e Laval e Vergne. A partir das entrevistas semiestruturadas, com quinze participantes do movimento estudantil que tiveram destaque nas escolas da região metropolitana de Porto Alegre, pudemos constatar que as políticas educacionais incidiram na vida dos jovens partícipes das ocupações secundaristas, à medida que, a partir da crítica à forma pelas quais elas foram materializadas, o movimento social se constituiu e favoreceu a formação política, a percepção da realidade e as concepções de mundo dos envolvidos, isto é, foram ensejadas práticas democráticas. Diante do exposto, é possível defender a tese de que as ocupações secundaristas, como exercício prático de democracia, questionaram as políticas educacionais neoliberais e produziram respostas a essas políticas, de modo a
tensionar a gestão escolar. Além disso, elas foram um movimento pessoal e coletivo
de formação política inédito, marcante e efervescente, que incidiu nos significados
atribuídos à democracia e nas biografias dos jovens participantes do movimento
estudantil de 2016 no Rio Grande do Sul.