Resumo:
Essa tese discute os jogos digitais indies e independentes produzidos no Brasil em suas
dimensões políticas, sob a perspectiva da tecnocultura audiovisual. A partir de reflexões
sobre o que é ser indie ou independente, procuramos por qualidades que duram no tempo e se atualizam nesses objetos-jogo, propondo entender esses objetos a partir de
marcadores de indiecidade. Partimos de um pressuposto epistemológico benjaminiano
para compreender esses objetos a partir da técnica. Além dos conceitos de Benjamin,
nosso referencial teórico-metodológico se apoia nos conceitos de Bergson de duração e
memória, assim como na arqueologia das mídias a partir de Parikka e Huhtamo. O
objetivo principal da pesquisa é distinguir marcadores do que chamamos de indiecidade
nesses jogos, em sua dimensão política, enquanto mídias implicadas em uma
tecnocultura audiovisual cujas durações alimentam um imaginário sobre independência.
Ainda, especificamente: pensar os jogos independentes em devir como implicados em um imaginário tecnocultural que se manifesta de diversas maneiras e em imagens dialéticas produzidas em toda sua história, em um contexto social, enquanto artefato cultural audiovisual; problematizar questões relativas à independência nas mídias, a partir das relações entre essas produções, a indústria de jogos e os imaginários acerca da
independência, e como esses conceitos se atualizam nos jogos indie brasileiros; propor
uma metodologia para pensar a produção de jogos a partir de uma relação de produção,
consumo e subversão. Assim estabelecemos uma metodologia que parte da escavação
desses objetos-jogo para, a seguir, produzir imagens dialéticas em constelações de
objetos distantes no tempo e no espaço. Essas constelações versam acerca da história
dos jogos, de sua constituição enquanto artefato cultural, social e tecnoludopolítico. Essa
perspectiva propõe pensar o jogo a partir de questões de raça e gênero. Analisamos
diversos jogos produzidos no Brasil, em especial os jogos independentes Bem Feito e
Telethugs. Por fim, buscamos definir os conceitos de indie e independente, propondo
marcadores de indiecidade a partir de qualidades que duram no tempo. Essas qualidades
dizem respeito à apropriação do aparato tecnológico nas instâncias de produção e
publicação, à utilização de meios estéticos para reescrever a história dos jogos, e a
formas de refração ou reprodução de discursos hegemônicos.