Abstract:
Esta tese tem como tema o tempo-espaço midiatizado em acionamentos por usos e apropriações de dispositivos socio-técnicos-comunicacionais e nas narrativas em disputas entre circuitos afro-referenciados e meios de comunicação do jornalismo em torno do racismo e do ‘ser negro’. Como problematização, se por um lado há um continuum socio-histórico do racismo que se atualiza, por outro lado as práticas comunicacionais racializadas e antirracistas se entrecruzam com ampliações das escalas de tempo e espaço na ambiência midiatizada. O objetivo da tese consiste em investigar como os circuitos afro-referenciados e os meios do jornalismo acionam temporalidades e espaços complexos nos usos e apropriações de dispositivos e disputas narrativas em circulação a partir de casos midiatizados. A hipótese de pesquisa defende que a ambiência midiatizada abrange temporalidades e espaços complexos que se entrecruzam em disputas entre circuitos afro-referenciados e meios do jornalismo, que presentificam práticas atreladas ao (antir)racismo. O desenho teórico-metodológico prioriza a busca por indícios a partir de três eixos complementares: proposições quanto ao cronotopo midiatizado, apropriação do conceito de cronotopo (BAKHTIN, 2010; 2018; GILROY, 2004) traduzido para o comunicacional e que articula os outros dois eixos; reflexões sobre a historicização da midiatização e de mediações articuladas com a do racismo de longa periodização; e o estudo de casos midiatizados múltiplos, a respeito das mortes de Gustavo Amaral e de João Alberto Freitas e de edições do programa GloboNews Em Pauta após a morte de George Floyd. Dentre o universo e a amostragem de pesquisa, constam telejornais e textos diversos dos meios do jornalismo e interações de atores sociais em circuitos interacionais em redes sociodigitais. O referencial teórico abrange conceitos relacionados à midiatização (VERÓN, 2013; 2014; BRAGA, 2006; e GOMES, 2016; FERREIRA, 2016; 2017; FAUSTO NETO, 2018; CARLÓN, 2019), história das mídias (J. B. THOMPSON, 2015; BRIGGS e BURKE, 2016), aos fenômenos socio-históricos do colonialismo, racismo e modernidade (FANON, 2022; CÈSAIRE, 2022; e GILROY, 2012), além de proposições sobre a esfera pública negra (GILROY, 2012) e relações entre jornalismo e modernidade (GROTH, 2011). Das referências teórico-metodológicas derivam proposições autorais sobre processos de circulação midiática através de encruzilhadas entre temporalidades de presentificação, presentismo, presenticismo e midiatizada, e, suas materializações em espaços territoriais e simbólicos. Como inferências de cada caso midiatizado entrecruzadas, os circuitos afro-referenciados realizam acionamentos céleres após os acontecimentos, contrapondo o silenciamento, esquecimento e denegações exercidos pelo jornalismo, instituições não-midiáticas e circuitos outros perante os casos sociais. Essas contraposições se dão em narrativas que subvertem imagens de controle (HILL COLLINS, 2022) pelo reconhecimento das dimensões do ‘ser negro’, do ‘tornar-se negro’ (SANTOS, 2021) e em torno do racismo em recordações e denúncias de sua continuidade e atualização. Diante da celeridade desses acionamentos e de ampliações dos acessos dos atores sociais negros à esfera pública midiática, as narrativas jornalísticas passam a tematizar o racismo momentaneamente em interpenetrações com temporalidades dos circuitos, mas, sem denunciá-lo caso a caso, oscilam entre o reconhecimento da humanidade e a desumanização das vítimas nas narrativas. Em conclusão, acionamentos e narrativas de atores sociais em temporalidade circular de recordação evidenciam a atualização e adaptação constantes das culturas afro-referenciadas na sociedade em midiatização. Com isso, possibilitando uma ampliação das disputas e tensionamentos perante a continuidade e atualização do racismo no midiático, processo materializado nos cronotopos midiatizados em demarcações, permanências e mudanças no espaço-tempo.