Resumen:
O desenvolvimento de redes de cooperação como uma forma de ampliar a competitividade e também de lidar com problemas complexos da sociedade, envolvendo diversos membros em prol de objetivos em comum, tem se tornado cada vez mais comum. Ainda que essas configurações sigam muitas das teorias já estudadas sobre organizações, existem particularidades que precisam ser compreendidas a partir da perspectiva da rede, considerando sua própria singularidade. A governança de redes como uma ferramenta de organização, planejamento e direcionamento da rede necessita de estudos que a interpretem vindo debaixo, das atividades mais rotineiras que fazem parte da governança de forma processual, a micro governança. Além disso, as redes apresentam a dicotomia da autoridade e autonomia, sendo um espaço onde os membros são autônomos mas interdependentes e onde às vezes é imperioso uma espécie de autoridade para tomada de decisões, mediação de conflitos e controle. A literatura apresenta algumas teorias pouco aprofundadas na prática sobre a micro governança de redes. Portanto, este estudo objetivou compreender os processos de micro governança que agem como fonte de autoridade e seu papel na governança de redes. Assim, foi realizada uma pesquisa qualitativa, com observações, análise de documentos e entrevistas (17) com membros da rede de saúde pública no Brasil, o Conass - Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Através de uma análise de dados processual, utilizando a busca por padrões ao longo do tempo, as evidências foram analisadas. A escolha do campo empírico se deu por lidar com um problema social complexo, a saúde pública. A rede apresenta um longo tempo de formação, desde 1982, e uma extensa organização de câmaras técnicas, comissões e comitês organizados de forma a debater e tomar decisões sobre como organizar a capilaridade e questões orçamentárias para resultados em prol da saúde pública no país. Para tanto diversas atividades e processos de governança entram em ação, sendo estes o objeto deste estudo. Entre os resultados, ficou evidenciado que as funções de micro governança desempenham papel fundamental para que a rede se mantenha em funcionamento. Entre estas funções, algumas se destacaram nas evidências coletadas como alinhar, organizar, monitorar e arbitrar. Conquanto, foram criadas proposições sobre estas funções de micro governança de redes, desvendando suas aplicabilidades e aprofundando a teoria com a evidência empírica. Ficou demonstrado pelos resultados que as funções de alinhar e organizar auxiliam a nivelar expectativas e oferecem continuidade para a rede, considerando a constante possibilidade de entrada e saída de membros. A função de monitorar oferece uma legitimidade aos processos de governança, pois é usada para controlar resultados e oferecer retorno sobre o atingimento de objetivos. Também evidenciou-se que a função arbitrar apoia o ambiente colaborativo ao promover consenso, a forma como a rede decidiu por sua tomada de decisão de conflitos. E por fim que as funções de micro governança se tornam parte da estrutura e constroem uma realidade da rede tomando para si o papel de autoridade. Desta forma, nenhum membro ou papel de liderança se torna responsável por enfatizar ou coagir para o uso das funções, estas o fazem por si só. Os achados desta pesquisa demonstram que as funções de micro governança oferecem autoridade e autenticidade aos processos, contribuindo para um ambiente colaborativo mais horizontal entre os membros.