Abstract:
A telenovela brasileira possui longa tradição na cultura televisiva nacional, sendo um dos produtos midiáticos mais consumidos nas residências dos brasileiros. O presente trabalho discute as formas de representação de personagens negros em telenovelas, bem como a pouca presença de atores negros nas tramas novelísticas. Partindo de uma novela específica – Segundo Sol-, transmitida pela Rede Globo no ano de 2018, apresenta as problemáticas raciais presentes dentro da trama e também suas implicações fora desse contexto. Para tanto, a pesquisa foi amparada em metodologia qualitativa. Foi utilizada a análise de conteúdo, guiada pelas contribuições de autores(as) como Silvio de Almeida (2019), Lilia Schwarcz (2011) e Kabengele Munanga (2010), para compreender os aspectos históricos, sociais e ideológicos do racismo; bem como as contribuições de autores(as) como Stuart Hall, Muniz Sodré, Winnie Bueno e Maria Aparecida Bento, para uma análise de aspectos de diferenciação presentes na mídia e as dimensões culturais que a racialização produz na circulação de imagens e discursos. A etnografia da tela foi a estratégia metodológica utilizada para a análise dos capítulos da telenovela, com o objetivo de ir além do texto presente na trama e atentar ao contexto no qual a produção estava inserida. A análise da trama selecionada evidenciou a persistência da subrepresentação negra em produções novelísticas. Entretanto, a partir de análise bibliográfica e empírica, foi possível sinalizar um avanço dessas pautas no contexto midiático, mesmo considerando o caráter mercadológico presente na utilização de pautas que visam representatividade. Esta pesquisa demonstrou que, apesar de ser
possível apontar para possíveis mudanças, parece ser incompatível a luta por igualdade dentro de um contexto social de exploração que se baseia em uma lógica economicista. Argumentei que, apesar da importância dos movimentos negros na luta por representação, a mudança estrutural necessária não se fará a partir de pequenas alterações nos elencos. Por fim, assinalei para as iniciativas de mídias contra-hegemônicas e a busca constante por uma nova forma de produção de conteúdo que leve em conta a relação sensível do outro como sujeito, bem como políticas públicas que visem transformações reais na forma e no conteúdo de produção da mídia televisiva no Brasil.