Abstract:
A presente tese possui como tema, a articulação Kaingang, cujo recorte temporal e geográfico estabelecidos contempla o povo Kaingang de alguns dos Postos Indígenas do Rio Grande do Sul, sendo eles, Nonoai, Guarita, Cacique Doble, Votouro e Ligeiro, em um período que compreende os anos de 1968 a 1985, ou seja, a partir da extinção do Serviço de Proteção aos Índios e criação da Fundação Nacional do Índio, até o período da redemocratização. A problemática da tese consiste em identificar e analisar as motivações, as características e os efeitos do processo de articulação dos indígenas no Rio Grande do Sul no contexto da ditadura militar. A partir de análise de artigos divulgados na imprensa, em especial, nos jornais Luta Indígena, Boletim do Cimi, O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Correio do Povo, Zero Hora etc., de fontes oficiais produzidas pelos órgãos de segurança e informação vigentes durante o período da ditadura militar e de fontes produzidas por instituições religiosas, buscamos compreender o processo de articulação dos indígenas Kaingang, vinculando-o às
variadas formas de enfrentamento das situações de violências, vulnerabilidades e conflitos que vivenciaram no período abarcado pela tese. Para abordar as diferentes formas e evidências do protagonismo indígena, utilizamos o aporte teórico da Nova História Indígena, especialmente, nas reflexões propostas por Santos e Felippe (2016, 2017, 2018). Buscamos, ainda, recorrendo a Michel De Certeau (1998), identificar e discutir as estratégias governamentais de controle empregadas sobre os indígenas e as táticas por eles utilizadas para enfrentá-las. Valemo-nos das reflexões de Haesbaert (2020), Quijano (2005, 2009) e Lugones (2014) para identificar e discutir as práticas de violências sobre o corpo e o território Kaingang; das produções de Tedesco et. al (2013, 2021) para tratar da questão relativa à disputa de terras, e de Brighenti (2012, 2013, 2020, 2021), Bicalho (2010a, 2010b), Baniwa (2007), Munduruku (2012) e Bittencourt (2000, 2007) para reconstituir e compreender como se deu a articulação Kaingang
e a formação do Movimento Indígena no Brasil. Interessa-nos, também, compreender a
influência de organizações religiosas nesse processo de articulação, uma vez que, ao
investigarmos os efeitos e as contestações às políticas desenvolvimentistas que incidiram sobre as terras indígenas, identificamos alguns personagens envolvidos nesse processo de formação de um movimento indígena no sul do país, resultante da articulação dos Kaingang, tema ainda pouco explorado pela historiografia no Rio Grande do Sul.