Abstract:
A estrutura patriarcal sob a qual a nossa sociedade se organiza reflete, nas mais diversas esferas, seus modos de opressão. As cidades, fruto de uma construção regida por esse paradigma, são um espaço onde é possível identificar nas ruas, nas construções e em todo o seu sistema de organização, essas impressões. Essa percepção é ainda mais acentuada quando observadas essas influências na vida das mulheres. Diante dessa constatação, o design estratégico se apresenta como um potencial operador metodológico capaz de, com suas capacidades dialógicas e de participação coletiva, transformar a realidade dos projetos desenvolvidos nesse contexto. No entanto, assim como nas cidades, é possível perceber as incidências do patriarcado sobre esse campo de estudo que nasceu dentro e a partir dessa realidade. Portanto, é com base nessas observações, e colocando esses fatores em conexão, que nasce esse estudo. A presente pesquisa analisa, inicialmente, os modos sob os quais a estrutura e o planejamento das cidades, construídas sob um contexto patriarcal, interferem na vida cotidiana das mulheres. A partir disso, se recorre ao feminismo como um campo de pesquisa e conhecimento sob o qual é possível construir novas perspectivas de futuro e de sociedade, compreendendo-o como uma epistemologia capaz de romper com os modelos projetuais dominantes, seja nas cidades ou, em especial, no design estratégico. O que se desenvolve a partir disso é a proposição de uma metodologia de design estratégico feminista, que tem como objetivo sugerir e apresentar novas perspectivas projetuais que sejam capazes de transformar os modos de operação e vieses de percepção acerca dos processos de projeto, levando em consideração, especialmente, a perspectiva das mulheres. Através de um percurso percorrido por meio de quatro verbos operacionais (escutar, compartilhar, imaginar e praticar), sob a adoção de posturas éticas feministas também representadas por verbos (assombrar, perguntar, lembrar, celebrar, aproximar e cuidar), a proposta teórico-metodológica desenvolvida é experenciada e avaliada em um contexto de projetação situado em Porto Alegre, em três diferentes vivências, com o objetivo de repensar a cidade e propor alternativas projetuais que levassem em consideração as vivências das mulheres.